"Há uma consciência dessa necessidade, mas não há ainda, em minha opinião, uma ação suficientemente eficaz. Tenho defendido com insistência, primeiro, que os países desenvolvidos devem cumprir o compromisso que fizeram em Paris, de garantir 100 mil milhões de dólares ao mundo em desenvolvimento todos os anos. Deveriam ter começado em 2020, estamos em 2023 e até agora isso não aconteceu, para apoiar a ação climática nos países em desenvolvimento", criticou.
"Há, portanto, um conjunto de reformas essenciais a fazer. E o mundo tem sido lento em reconhecer a sua necessidade e mais lento ainda em executá-las", apontou ainda António Guterres numa declaração após reunir-se no Mindelo, ilha de São Vicente, com o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva.
"Tenho defendido a necessidade de duplicar os fundos para adaptação. A adaptação é a capacidade dos países investirem na resiliência em relação aos impactos climáticos", exemplificou.
Recordou igualmente que "houve um compromisso de dobrar o financiamento para a adaptação", sem avanços.
"Ainda não vimos um programa de ação que permita ter a certeza que isso se vai concretizar. Por outro lado, o chamado Fundo Verde tem funcionado com uma grande ineficácia e com dificuldades de acesso, sobretudo as pequenas economias, e importa que ele seja tornado mais operacional e reformado e que o seu volume de recursos seja restabelecido em pleno no próximo ciclo", disse igualmente.
Por outro lado, António Guterres defendeu ser "evidente" que as organizações multilaterais, o Banco Mundial e os diversos outros bancos multilaterais, "devem ter um papel muito mais ativo na mobilização do financiamento privado para finalidades climáticas de mitigação e adaptação".
"O modelo de negócio dos bancos multilaterais tem que ser alterado: Têm que estar disponíveis para assumir maiores riscos e tem que, para além dos empréstimos que fazem, tem que produzir muito mais garantias, ser primeiros tomadores de risco em coligações financeiras e ter como principal preocupação facilitar a mobilização do financiamento privado a custo razoável para países que, tal como Cabo Verde, têm uma necessidade vital de financiamento privado", afirmou ainda.
O secretário-geral das Nações Unidas iniciou hoje uma visita de três dias a Cabo Verde, no âmbito da Ocean Race, a maior regata do mundo que de 20 a 25 de janeiro faz escala na ilha cabo-verdiana de São Vicente, participando na segunda-feira, também no Mindelo, na Ocean Summit.
"Estou aqui, como é sabido, para participar na 'Cimeira do Oceano do Mindelo, mas também, e sobretudo, para agradecer a parceria do vosso país com as Nações Unidas, para saudar os vossos esforços em prol da boa governação de instituições democráticas fortes e eficazes, Cabo Verde é hoje um exemplo não apenas para África, mas para todo o mundo. E este exemplo demonstra quão importantes são as políticas económicas centradas nas pessoas e como as mesmas constituem uma alavanca decisiva para o desenvolvimento", reconheceu.
Ainda hoje, depois da reunião com o chefe do Governo cabo-verdiano, António Guterres participa ainda no evento "Speaker Series", com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Leia Também: "Moda" da corrida ao armamento limita combate à pobreza, aponta Guterres