Com quase 90%, a abstenção foi a maior desde a Revolução de 2011, que derrubou o ditador Ben Ali e marcou o advento da democracia no país.
Algumas eleições nos últimos 12 anos registaram quase 70% de votos válidos, como as eleições legislativas de outubro de 2014.
No total, 895.002 pessoas votaram em 7,85 milhões de eleitores registados, disse o presidente da autoridade eleitoral, Farouk Bouasker, o que aponta para 11,4% (contra 11,3% anunciados na noite de domingo com base em dados provisórios).
Os especialistas explicam a baixa afluência pelo boicote unânime das eleições por parte dos partidos da oposição, mas também pelo desinteresse pela política de uma população centrada na deterioração das condições económicas (nomeadamente uma inflação galopante).
Denunciando a concretização de um "golpe de Estado contra a Revolução" que permitiu a única verdadeira democracia no mundo árabe, quase todos os partidos políticos boicotaram a votação, entre eles o Ennahdha, força política de inspiração islâmica que durante 10 anos dominou o parlamento entretanto dissolvido.
O Presidente, Kais Saied, responsabiliza a crise política pela corrupção profundamente enraizada no sistema político-partidário na Tunísia, onde reinavam deputados "membros de redes de contrabando" e "sem preocupação pelas necessidades económicas e sociais do povo".
As eleições legislativas de 17 de dezembro, com a segunda volta no domingo, foram uma das últimas peças que Saied quis colocar na construção de um sistema ultrapresidencialista semelhante ao que existia antes da queda de Ben Ali.
Argumentando que o país é ingovernável, Saied demitiu o primeiro-ministro e suspendeu o Parlamento em 25 de julho de 2021, antes de dissolvê-lo, para depois reformar a Constituição no verão passado, durante um referendo que já foi rejeitado pelos eleitores, para abolir o sistema híbrido existente.
O futuro Parlamento, também constituído por um Conselho Nacional das Regiões -- ainda por designar -- verá as suas prerrogativas consideravelmente reduzidas e apenas terá competências para derrubar o Governo após duas moções de censura aprovadas por dois terços das duas câmaras, nunca podendo demitir o Presidente.
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