HRW quer pressão do Papa para respeito pelos direitos no Sudão do Sul

A organização Human Rights Watch (HRW) defendeu hoje que o Papa use a visita ao Sudão do Sul para pressionar os líderes políticos a tomarem "medidas concretas" para acabar com os abusos de direitos humanos no país.

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Lusa
03/02/2023 13:20 ‧ 03/02/2023 por Lusa

Mundo

Sudão do Sul

"Os líderes da igreja deveriam usar a sua visita para enfatizar que já passou muito tempo para os líderes do país implementarem reformas essenciais e acabarem com o sofrimento das pessoas", defendeu o diretor da HRW para África, Mausi Segun.

O Papa Francisco, juntamente com os líderes das igrejas anglicana e presbiteriana, visitam até domingo o Sudão do Sul, uma viagem que, para a organização de defesa dos direitos humanos, deveria ser uma oportunidade para apelar aos líderes locais para que respeitem as vozes dissidentes e abordem a crise de direitos humanos no país.

"Devem também pressionar os líderes do Sudão do Sul a tomarem medidas concretas para acabar com os ataques a civis e para assegurar a responsabilização pelos graves abusos", acrescentou Mausi Segun.

A HRW lembrou que os civis em várias partes do país continuam a enfrentar ataques violentos e que, desde meados de 2022, os confrontos entre grupos armados da oposição e forças governamentais têm sido acompanhados por graves violações dos direitos humanos que levaram a deslocamentos forçados de milhares de pessoas.

A organização denunciou, por outro lado, a impunidade existente para crimes graves cometidos por vários grupos, incluindo forças governamentais e rebeldes, em todo o Sudão do Sul durante o conflito armado e mesmo após a assinatura dos acordos para pôr fim à guerra civil no país.

De acordo com a HRW, o Governo só acusou e responsabilizou "um punhado" de membros das forças de segurança por crimes contra civis.

"As autoridades não investigaram nem responsabilizaram oficiais e milícias aliadas implicadas no planeamento e execução de ataques contra civis em territórios sob o controlo do Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA-IO), entre fevereiro e maio de 2022", exemplificou a HRW.

De acordo com as Nações Unidas, em resultado desses ataques, pelo menos 44.000 pessoas foram deslocadas, 173 civis desarmados mortos e 131 mulheres violadas, incluindo violações em grupo.

A HRW apontou ainda falhas às autoridades do Sudão do Sul e à Comissão da União Africana (UA) por não terem ainda criado um tribunal híbrido para o Sudão do Sul, previsto nos acordos de paz de 2015 e de 2018, para julgar violações mais graves.

Pendente está também o estabelecimento da Comissão de Verdade, Reconciliação e Cura e da Autoridade de Compensação e Reparação para as vítimas.

Os responsáveis da organização denunciam igualmente "uma diminuição significativa" do espaço cívico no último ano, com relatos de detenções e perseguições de ativistas, membros da oposição, críticos do regime e jornalistas.

"O Papa Francisco e os seus colegas líderes religiosos deveriam exigir a libertação imediata dos trabalhadores dos meios de comunicação detidos e a retirada de quaisquer acusações contra eles", defendeu a Human Rights Watch.

"O clima de medo em que a sociedade civil do Sudão do Sul vive há anos é profundamente angustiante e injustificado", disse Segun.

"Os líderes da Igreja deveriam deixar claro que a abertura do espaço para o diálogo crítico e o debate sobre questões de interesse público será a chave para um futuro mais justo", acrescentou.

Leia Também: Não há "ameaças específicas" à viagem do Papa à RDCongo e Sudão do Sul

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