RDCongo. Comandante da ONU diz que é preciso "mais trabalho para a paz"
O comandante militar da Monusco, a missão da ONU na República Democrática do Congo (RDCongo), tenente-general Marcos Affonso da Costa, que termina no final do mês o mandato, reconheceu ser necessário mais trabalho para garantir a paz no país.
© MICHEL LUNANGA/AFP via Getty Images
Mundo RDCongo
Kinshasa, 06 fev 2023 (Lusa) -- O comandante militar da Monusco, a missão da ONU na República Democrática do Congo (RDCongo), tenente-general Marcos Affonso da Costa, que termina no final do mês o mandato, reconheceu ser necessário mais trabalho para garantir a paz no país.
"Tivemos sucessos, mas é preciso mais trabalho para garantir a paz na República Democrática do Congo", disse o oficial brasileiro, citado num comunicado divulgado hoje pela Monusco.
Marcos de Sá Affonso da Costa, que apresentou o balanço do seu mandato durante uma cerimónia realizada no passado dia 02 em Bunia, na conturbada província de Ituri , será substituído em 01 de março pelo também tenente-general brasileiro Otávio Rodrigues de Miranda Filho.
O oficial brasileiro elogiou o esforço de pacificação encetado na RDCongo: "Se fizer um balanço ou olhar para trás sobre a situação de segurança na RDCongo desde a chegada da missão em 1999, ver-se-á claramente que o país está mais estável hoje do que há 20 anos".
Marcos Affonso da Costa também disse estar satisfeito com os resultados obtidos desde a implantação do sistema de alerta comunitário em Ituri, que envolve as comunidades na busca da paz, salvando e protegendo milhares de civis.
Apesar de todos estes avanços, diz ter consciência de que ainda há muito a fazer para garantir uma paz duradoura no país e defendeu o reforço da presença militar da missão das Nações Unidas no terreno.
A este respeito, aludiu à situação na província de Ituri, em particular com as milícias rebeldes Codeco e Zaire e outros grupos que cometem abusos contra a população civil e vincou que "a Monusco tem de responder ao desafio com mais tropas no terreno".
Marcos Affonso da Costa disse que a missão da ONU foi reforçada com um batalhão adicional, de militares indonésios e acrescentou que em várias situações entram em ação "forças especiais guatemaltecas destacadas para reforçar e proteger a área" com as forças armadas governamentais (FARDC) e a polícia nacional "para a proteção dos civis".
O oficial brasileiro garante que a Monusco utiliza todos os recursos humanos disponíveis na missão para apoiar Ituri, embora os recursos sejam limitados.
"Em termos de números, temos cerca de 2.000 soldados aqui em Ituri. A nossa intenção é chegar a três mil, são esforços que já estão em andamento", afirmou.
O militar aludiu ainda à questão do movimento rebelde M23 -- que segundo Kinshasa e a própria ONU, é apoiada pelo vizinho Ruanda -, que continua a conquistar territórios e localidades no leste da RDCongo, e ainda à situação na província de Kivu do Sul.
"Continuo otimista. Acredito na via política para conseguir a desmobilização de todos esses grupos armados. Já está tudo planeado com o P-DDRCS (Programa de Desmobilização, Desarmamento, Recuperação Comunitária e Estabilização). Acho que há também o envolvimento a nível internacional. Nas outras províncias onde estamos implantados, como Kivu do Norte e Kivu do Sul, a dinâmica é diferente com a questão do M23 que suscita várias preocupações: há combates intensos em Kitshanga. Asseguramos a proteção de mais de dois mil civis, que estão concentrados à volta da nossa base", afirmou.
O tenente-general Otávio Rodrigues de Miranda Filho em entrevista à agência Lusa, disse que vai trabalhar para "melhorar a perceção da população" em relação aos 'capacetes azuis'.
O oficial admitiu que se trata de uma missão "extremamente complexa" e que está a passar por "um momento difícil", pelo que tentará resgatar a sua imagem.
"A Monusco já está estabelecida na República Democrática do Congo há mais de 22 anos. Então, em razão desse tempo de permanência, já ocorre um desgaste natural da imagem da missão junto da população. O primeiro desafio será trabalhar para resgatar ou para melhorar a perceção da população em relação à participação e à recetividade da Monusco", disse.
"Mas também sabemos que o país tem cerca de 120 grupos armados, distribuídos principalmente na fronteira leste, com destaque especial para o M23, que havia sido derrotado no passado, mas que hoje ressurge com força no cenário interno e no cenário regional", analisou o oficial brasileiro.
Nesse sentido, as prioridades passarão por enfrentar o M23, o grupo rebelde Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco) e outros grupos importantes de rebeldes, de forma a dar continuidade à aplicação do mandato da Monusco, que tem como foco a proteção de civis, além de colaborar com a estabilização do país e fortalecer as instituições do Estado.
A Monusco, que substituiu a anterior operação de manutenção da paz da ONU na RDCongo (Monuc), criada em 01 de julho de 2010, e cujo mandato resulta de uma resolução do Conselho de Segurança, foi "autorizada a usar todos os meios necessários para cumprir o seu mandato relacionado, entre outras coisas, com a proteção de civis, pessoal humanitário e defensores dos direitos humanos sob ameaça iminente de violência física e para apoiar o Governo da RDCongo nos seus esforços de estabilização e consolidação da paz".
A atual missão das Nações Unidas conta atualmente com 16.316 'capacetes azuis' uniformizados, entre militares, observadores militares e polícias.
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