Tanto o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, como analistas do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW), acreditam que, numa próxima fase, as tropas não atacarão em todas as frentes, ao contrário de 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
"Não vemos esse risco", disse Reznikov em entrevista publicada hoje pelo jornal Ukraínska Pravda, na qual reforçou que os grupos mais importantes das Forças Armadas russas se encontram "no leste e no sul" do país.
"Os principais riscos são o leste, o sul e depois o norte", segundo o ministro, que descartou um novo ataque contra a capital, Kyiv, à semelhança do que aconteceu no início da invasão, embora as forças ucranianas também se estejam a preparar para esse cenário.
O vice-chefe da secreta militar, Vadym Skibitskyi, também afirmou hoje que a Ucrânia "determinou que a ofensiva do exército russo pode ocorrer nas regiões de Donetsk e Lugansk [leste], bem como possivelmente em Zaporijia [sul]".
Aquela província do sul, controlada apenas parcialmente pela Rússia, abriga a maior central nuclear da Europa, cuja segurança será abordada esta semana em Moscovo pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, que já tinha estado anteriormente em Kyiv.
Na ocasião, em 19 de janeiro, Grossi voltou a alertar para o risco de um acidente nuclear "a qualquer momento" na central ucraniana de Zaporijia, que está sob controlo russo, e insistiu na criação de uma zona de segurança.
"Sabemos, todos os dias, que um acidente nuclear ou um acidente com graves consequências radiológicas pode acontecer a qualquer momento, por isso estou tão preocupado", afirmou aos jornalistas o responsável da AIEA, em Kyiv, onde se avistou com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky
Sobre a situação imitar na Ucrânia, as dúvidas permanecem sobre a data em que ocorrerá uma nova ofensiva russa, sendo admitido pelas autoridades ucranianas que ela pode acontecer simbolicamente por ocasião do primeiro aniversário da invasão, em 24 de fevereiro.
No entanto, o governador de Lugansk, Serhiy Gaidai, alerta para a concentração de tropas russas nesta região e ponderou, à televisão Belsat, que o ataque possa acontecer mais cedo, já a partir de dia 15.
Os serviços de informações militares ucranianos estimam, por sua vez, um prazo mais alargado. "Em janeiro, registámos que a Rússia planeia mobilizar de 300.000 a 500.000 pessoas para o Exército, a fim de garantir operações ofensivas no leste e sul da Ucrânia na primavera e no verão", disse Vadym Skibitskyi, alto funcionário desta estrutura, números a adicionar ao último recrutamento de 300.000 efetivos em setembro, num ataque que prevê que tenha a duração de dois meses, antecipando a chegada dos tanques pesados ocidentais.
No entanto, o Canadá enviou o primeiro dos seus prometidos tanques de guerra Leopard 2 para a Ucrânia, anunciou no domingo a ministra da Defesa, Anita Anand, e de imediato começará formação das forças ucranianas no seu funcionamento. Outros países ocidentais, incluindo Portugal, já anunciaram a sua intenção de estas viaturas de fabrico alemão, a somar aos blindados Abrams, dos Estados Unidos.
Na semana passada, um contingente ucraniano desembarcou no Reino Unido, com vista à formação nos carros de combate britânicos Challenger 2.
No terreno, as forças russas continuam a reivindicar avanços na direção de Bakhmut, na província de Donetsk, onde intensos combates são travados há largos meses.
"Não importa o quão difícil seja e quanta pressão haja, temos de aguentar", afirmou Volodymyr Zelenski na noite de domingo, antes de pedir hoje ao parlamento para alargar a lei marcial e a mobilização geral em vigor no país por mais três meses.
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