A Rússia convocou hoje uma reunião no Conselho de Segurança da ONU para abordar as explosões que ocorreram em setembro do ano passado nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, depois de fazer circular uma resolução que pedia uma investigação das Nações Unidas à sabotagem. Contudo, a resolução não foi levada a votação na reunião.
Várias delegações ocidentais questionaram o 'timing' desta reunião, agendada cerca de cinco meses após as explosões e precisamente para a semana em que a ONU tem uma ampla agenda dedicada a assinalar um ano da guerra na Ucrânia, incluindo a votação de uma resolução em Assembleia-Geral que condena a invasão russa e pede a retirada das tropas.
"Os EUA estão profundamente preocupados com a sabotagem ocorrida no Nord Stream 1 e 2 em setembro passado. (...) Mas a reunião de hoje é uma tentativa flagrante de desviar a atenção, já que o mundo se une esta semana para pedir uma paz justa e segura na Ucrânia. A Rússia quer desesperadamente mudar de assunto", acusou a missão norte-americana.
"No entanto, deixem-me afirmar claramente que as acusações de que os EUA estão envolvidos neste ato de sabotagem são completamente falsas. Os EUA não estão envolvidos de forma nenhuma. As autoridades competentes na Dinamarca, Alemanha e Suécia estão a investigar esses incidentes de maneira abrangente, transparente e imparcial. Os recursos para as investigações da ONU devem ser preservados para os casos em que os Estados não desejam ou não podem investigar genuinamente", acrescentou.
De acordo com a missão norte-americana na ONU, Moscovo não procura uma investigação imparcial, mas sim "prejudicar as investigações que estão em andamento em direção a uma conclusão predeterminada de sua escolha".
Antes da reunião, os embaixadores da Dinamarca, Suécia e Alemanha - países que já se encontram a investigar as explosões - enviaram uma carta aos membros do Conselho de Segurança indicando que as suas investigações -- ainda a decorrer - estabeleceram que os gasodutos foram amplamente danificados "por poderosas explosões devido a sabotagem".
Ao convocar esta reunião, a Rússia levou até ao Conselho de Segurança o professor universitário na Universidade de Columbia Jeffrey Sachs e o ex-analista da CIA e ativista político Raymond McGovern, que sugeriram que a Casa Branca estaria por trás desta sabotagem, com base numa investigação do jornalista norte-americano vencedor do Prémio Pulitzer Seymour Hersh, que acusou mergulhadores da Marinha dos EUA de terem plantado explosivos nos gasodutos, e a Noruega de os ter ativado posteriormente.
Entre os diplomatas que criticaram a referência à reportagem de Seymour Hersh está Thomas Phipps, do Reino Unido, que indicou que foi escrita com base "numa única fonte secreta" e que os "detalhes já foram amplamente desmascarados por outros jornalistas".
"É, portanto, nossa opinião que a verdadeira razão para a urgência da Rússia hoje é um desejo desesperado de desviar a atenção um ano depois do início da sua invasão em grande escala da Ucrânia, das baixas maciças sofridas pelos militares russos e da devastação que a guerra causou", disse Phipps.
Já o representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, acusou a Alemanha, Dinamarca e Suécia de ignorarem as petições de Moscovo para participar nas investigações, classificando-as de "não transparentes" e de tentarem "encobrir pistas" para "proteger o irmão", em referência aos Estados Unidos.
Apesar de o embaixador russo dizer que apenas confia numa investigação da ONU, a secretária-geral adjunta para os Assuntos Políticos e Consolidação da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo, afirmou que as Nações Unidas "não estão em posição de verificar ou confirmar nenhuma das denúncias relacionadas a esses incidentes", acrescentando que aguarda as conclusões das investigações que já estão em andamento.
"Dada a sensibilidade do assunto, pedimos a todos os envolvidos que mostrem moderação e evitem qualquer especulação", apelou ainda DiCarlo.
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