Para o diplomata, apesar de ser óbvio que Moscovo não reúne as condições para permanecer nas Nações Unidas após as graves violações à sua Carta com a invasão da Ucrânia, é necessário ter em conta dois aspetos: "o moral e o legal".
"No aspeto moral, é claro, um país que não respeite a carta das Nações Unidas, e o artigo dois, que faz das Nações Unidas a Assembleia dos países adepto da paz... a Rússia hoje não é um país adepto da paz. Portanto, a Rússia deveria estar, é claro, fora do Conselho de Segurança e fora da ONU, se tivéssemos os meios", advogou o diplomata.
"A questão legal é que não podemos fazer isso. Porque para mudar a composição do Conselho, precisamos não só de dois terços das Nações Unidas, mas também dos cinco membros permanentes. Portanto, não vejo a Rússia a votar contra si mesma", observou.
Em entrevista à Lusa no salão do Conselho de Segurança, em Nova Iorque, o representante do pequeno país balcânico de 2,8 milhões de habitantes que, juntamente com os Estados Unidos, é o codetentor do dossier da Ucrânia, afirmou não ver nenhuma possibilidade de paz no momento.
"Penso que esta guerra de escolha iniciada pela Rússia - e provavelmente por uma só pessoa na Rússia [Vladimir Putin] - está numa espécie de ponto sem retorno. (...) Vemos que a Rússia ainda está convencida de que a Ucrânia não deveria existir, que o território da Ucrânia pode ser russo, e eles anexaram formalmente quatro novos territórios, além da Crimeia. Logo, não vemos nenhuma possibilidade, nenhum apetite para negociações agora", avaliou.
O representante albanês espera que a primavera traga novidades nesse sentido, que permitam avaliar novas possibilidades de negociação.
Com um olhar no futuro, Hoxha aproveitou ainda para chamar a atenção para as falhas da ONU nas questões de prevenção de conflitos, defendendo que a União Europeia é o único exemplo a seguir nesse contexto.
"Ainda não construímos uma estrutura internacional de prevenção. E este é o ponto fraco do multilateralismo. Apenas um lugar, uma região, um organismo fez a prevenção por excelência, e foi a União Europeia", frisou.
"Desde a Segunda Guerra Mundial, quando os países europeus costumavam lutar uns contra os outros, matar-se uns aos outros, quando se uniram por interesse e por um propósito, tornaram o conflito impossível. Este é o modelo. É assim que o mundo deveria evoluir. Deveriam olhar para a União Europeia, que, obviamente, não tem hoje um trabalho fácil. Há muitas contradições. Há muitas interpretações erradas. Mas afastem-se um pouco e vejam que a União Europeia é absolutamente o lugar, o modelo, o projeto, o melhor que a humanidade já viu para trabalhar na prevenção", reforçou o diplomata.
Para Ferit Hoxha, nem a "ONU, nem o Conselho de Segurança, nem a Liga Árabe, nem a OIC [Organização para a Cooperação Islâmica] e nem a União Africana são capazes de olhar para a prevenção": "Apenas um lugar faz isso e é a União Europeia", reforçou.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa na Ucrânia, justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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