Analista: Para Kyiv, a batalha de Bakhmut "já cumpriu a sua função"
O major-general José Arnaut Moreira defende que a batalha de Bakhmut, no leste da Ucrânia, "já cumpriu a sua função" na perspetiva de Kiev, numa campanha de desgaste das forças russas, ganhando tempo para uma contraofensiva.
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Mundo Guerra na Ucrânia
"Não podemos afastar-nos daquilo que foi a função de Bakhmut, importantíssima para as forças ucranianas, que foi a de cumprir dois objetivos: por um lado, dar tempo e, por outro lado, desgastar as forças russas que ali têm empenhado", comentou em declarações à Lusa o especialista militar.
Em relação ao fator tempo, Arnaut Moreira recordou que as tropas de Moscovo chegaram à periferia de Bakhmut no final de agosto e a batalha, durante vários meses, "garantiu de alguma maneira ou impediu a progressão por parte das forças russas em direção aos objetivos finais no Donbass", que seriam Kramatorsk e Sloviansk.
"Esta missão já está cumprida, no entanto, as forças ucranianas entendem que ainda têm condições para prolongar algum tempo esta resistência", considerou, na medida em que "precisam de cerca de seis a oito semanas antes de estarem preparadas para lançar uma contraofensiva e não lhes interessa certamente perder muito terreno" neste período.
Segundo o major-general, há neste momento duas batalhas ainda em Bakhmut, em que as forças ucranianas terão abandonado a parte leste da cidade e passado para a zona oeste do rio Bakhmutka "e aí ainda continuam a desenvolver operações, impedindo que as forças [do grupo mercenário russo] Wagner progridam com rapidez para o centro".
Mas há uma outra batalha, apontou, relacionada com "a batalha do cerco, que tem características ligeiramente diferentes", por se tratar de terreno mais aberto, exigindo mobilidade e, sobretudo, blindagem" e para a qual as forças ucranianas empenharam reforços militares.
Os próximos dias, segundo José Arnaut Moreira, serão marcados pela tentativa das forças Wagner passarem para o lado leste do Bakhmutka e, por outro lado, de cercar completamente a cidade.
Ainda que consigam este objetivo e Bakhmut venha a cair, as forças ucranianas "terão de encontrar outras posições que lhes permitam aguentar durante as várias semanas que ainda faltam até estarem capazes de poder assumir de novo a iniciativa dos combates".
A longa luta por Bakhmut tem provocado grandes baixas dos dois lados, embora o especialista militar alerte que nas batalhas em ambiente urbano, "existe uma enorme diferença entre quem ataca e quem defende", que está "naturalmente muito mais protegido dos efeitos letais, quer do tiro direto, quer das armas de tiro indireto".
Por outro lado, referiu as forças Wagner, "estão relativamente mal treinadas" - grande parte delas foi recrutada nas prisões durante a segunda metade de 2022 - e "expostas de um ponto de vista militar excessivamente às dificuldades da guerra".
Com as primeiras linhas das forças Wagner a sofrerem "uma atrição enorme" e exaustas, obrigando ao recurso dos seus combatentes mais bem treinados e mais bem equipados para prosseguir a ofensiva, o seu líder, Yevgeny Prigojine, dá sinais de nervosismo nas suas últimas intervenções, considera Arnaut Moreira.
Como consequências a prazo de um número imenso de baixas dos dois lados, as forças russas terão de "proceder a uma reorganização", sendo incerto se os meios mecanizados e blindados, após Bakhmut, estarão disponíveis para avançarem rapidamente para Kramatorsk e Sloviansk.
Quanto às forças ucranianas, "terão certamente tempo de conseguirem retirar de uma forma organizada" de Bakhmut, previu, e "constituir linhas defensivas que retardem o avanço das forças russas" sobre aquelas cidades.
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