"Esta visita é exatamente para também limar essas arestas. Se há pontos - eu não gostaria de usar o termo obscuros -, mas se há pontos impeditivos da realização, da concretização de protocolos, temos ocasião de vê-los, eliminar esses pontos e podermos avançar", afirmou o presidente de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, que hoje iniciou, na Praia, uma visita oficial a Cabo Verde.
"Faremos uma avaliação do percurso feito até aqui e perspetivar novas ações, novas áreas, e todas elas adaptadas dentro do enquadramento atual", perspetivou o chefe de Estado são-tomense numa intervenção conjunta com o homólogo cabo-verdiano, José Maria Neves, no Palácio Presidencial.
De acordo com Carlos Vila Nova, esta visita, que se prolonga até quinta-feira, servirá também para partilhar "experiências de ambos os lados", mas "sobretudo o percurso de Cabo Verde em algumas matérias muito interessantes" para São Tomé e Príncipe, "como é o caso da graduação do país a um País de Rendimento Médio".
"Ao longo dessas visitas irei acompanhar atentamente este processo, para que de facto se elimine tudo quanto nos possa fazer perder tempo e desfocar do que é o essencial neste percurso", afirmou ainda.
Na mesma ocasião, o Presidente cabo-verdiano e antigo primeiro-ministro (2001 a 2016) reconheceu que entre os dois países "tem havido uma intensa troca", mas que "alguns protocolos não foram ainda implementados".
"Há constrangimentos, há dificuldades em termos de ligações aéreas e marítimas, mas nós temos, na área da educação, por exemplo, mais de 80 jovens de São Tomé e Príncipe já estiveram na Escola Nacional de Hotelaria e Turismo e no Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial. Alguns professores de Cabo Verde já estiveram em São Tomé a dar aulas e também temos estudantes de São Tomé e Príncipe nas nossas universidades, dezenas de estudantes já se formaram aqui nas universidades cabo-verdianas", reconheceu José Maria Neves.
"Temos é de procurar formas de remover os obstáculos e os constrangimentos que ainda existem e penso que com esta visita os dois Presidentes vão poder continuar a trabalhar para criar um ambiente positivo, removendo os obstáculos que ainda existem para reforçarmos essas relações em outros domínios que são importantes para o crescimento e o desenvolvimento dos dois arquipélagos", acrescentou.
José Maria Neves destacou que "há vários acordos já assinados entre os dois governos", antevendo "um intenso trabalho, desde logo para remover os obstáculos existentes", apontando a disponibilidade cabo-verdiana de apoiar a intenção de São Tomé e Príncipe, de elevar a sua graduação internacional.
"Nós ascendemos a País de Rendimento Médio em 2007, em 2008 iniciou-se um processo negocial com a comunidade internacional. Houve um período de cinco anos de transição entre 2008 e 2013 para que o país pudesse adaptar se às novas realidades, aos novos contextos. Cabo Verde tem um 'know-how' que pode trabalhar com São Tomé para que possa também realizar com sucesso o seu processo de transição para País de Rendimento Médio. E já é um ganho e um motivo de orgulho, mas temos de preparar-nos para não haver regressão", exemplificou igualmente José Maria Neves.
Além disso, o chefe de Estado antevê "condições" de Cabo Verde "poder continuar a trabalhar no domínio da formação profissional, o domínio do ensino superior, ciência e inovação" com São Tomé e Príncipe.
"Há também os desafios que se colocam aos pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento neste momento, designadamente a questão relacionada com as mudanças climáticas. Há um Comité para o Clima dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento a nível da União Africana e podemos reforçar as nossas relações neste domínio", elencou ainda.
A transição energética e digital e a economia azul são outras áreas de cooperação entre os dois arquipélagos defendidas pelo Presidente cabo-verdiano.
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