"Ainda não assumimos que Estado é uma continuidade. Os governos podem mudar, mas há certas medidas do Governo anterior que devem ser continuadas. Essa questão política exige o entendimento entre os atores da política para que se possa olhar para o futuro de forma mais coerente, eficiente, eficaz. Se não assumirmos o Estado como uma continuidade nos seus atos, não há políticas que perdurem", afirmou hoje em Díli.
"Estamos à beira de eleições e todos dizem que estamos num ano político. Depois teremos oportunidade de ver se há de facto uma tomada de consciência para ter uma cultura de Estado diferente", sublinhou o atual secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), maior partido do atual Governo.
Mari Alkatiri falava na abertura de um seminário de três dias de "reflexão sobre 20 anos de desenvolvimento de infraestruturas em Timor-Leste, qualidade, resiliência e sustentabilidade", organizado pelo Conselho de Administração do Fundo de Infraestruturas (CAFI).
Alkatiri disse que essa continuidade é especialmente importante no que é "essencial e estruturante", como é o caso de infraestruturas ou de um esforço para um melhor ordenamento do território, uma "preocupação" contínua. E recordou o seu primeiro Governo, em 2002, e a defesa que fez da necessidade de se aproveitar a oportunidade da destruição durante a retirada das forças indonésias em 1999, para "implementar um plano de ordenamento e um plano diretor em Díli".
"Concluiu-se um plano diretor de Dili e Baucau. Mas, infelizmente, a partir de 2007, esses planos foram ignorados por quem governou e hoje padecemos as consequências deste abandono do princípio de ordenamento e planeamento", afirmou.
"Hoje podemos ver Dili é uma cidade ruralizada, sem o mínimo de condições de saneamento, nem o mínimo de condições de ordenamento. Digo cidade ruralizada para não lhe chamar uma cidade de bairros de lata, que é o que é Dili neste momento", vincou.
Alkatiri aplaudiu o que diz ter sido um "esforço do atual Governo de corrigir o que foi feito de errado, especialmente no ordenamento e planeamento".
"Diria que reparar os erros em Díli e fazer de Díli uma cidade mais ordenada talvez venha a ser muito mais caro do que fazer um sítio para uma nova capital. Dili não pode ser abandonada, mas deve esvaziar-se a cidade para o campo. Não é transferir a cidade, mas levar o estilo de vida para o campo", afirmou.
"Isso significa fundamentalmente combater as assimetrias no desenvolvimento, criar novos polos de desenvolvimento como incentivo para o regresso a novos polos das populações que em Díli se concentram, mas sem hipóteses de viver em condições, nem económicas nem de infraestruturas", disse.
Alkatiri defendeu estudos claros e detalhados como "fundamentais" para infraestruturas, que deveria repensar a localização das estradas atuais, que "nunca será possível manter em condições durante muitos anos, porque o terreno não o favorece".
Tal como implementou em todos os projetos de infraestruturas quando foi presidente da autoridade da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), Alkatiri disse que é igualmente essencial garantir a fiscalização de todas as obras.
Como exemplo deu a estrada entre Díli e Baucau, afirmando que "a última fase de execução já nem fiscalização havia, porque foi feita muito a correr".
"Tudo isto tem significado mais e mais gastos de orçamentos. Estamos no bom momento se tomarmos consciência disto. Estávamos no novo riquismo e agora estamos a tomar consciência de que temos que enfrentar o processo de desenvolvimento quase sem dinheiro", afirmou.
"Isto acaba por ser bom porque a economia é a gestão racional de recursos escassos, e não gestão despesista. Estamos na corrida de que o dinheiro resolve tudo, mas também pode prejudicar todas as nossas políticas", disse.
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