"Vamos acolher a população que regressar em conformidade com o acordado entre os dois países", indicou Zaw Min Tun, precisando que o primeiro repatriamento envolverá "cerca de mil pessoas".
No entanto, os refugiados rohingya expressaram dúvidas sobre a possibilidade de repatriamento para a antiga Birmânia, após a visita de uma delegação de Myanmar aos campos de refugiados no Bangladesh.
A delegação, de 17 membros, chegou há uma semana e é liderada por um alto funcionário do Ministério da Imigração de Myanmar, reuniu-se com cerca de 480 refugiados rohingya em vários campos no Bangladesh, que abrigam quase um milhão.
A visita da delegação é vista por Daca como uma tentativa de relançar um plano de repatriamento da minoria muçulmana rohingya para Myanmar.
Quando a delegação chegou, as autoridades de Daca disseram esperar que o repatriamento dos refugiados começasse rapidamente, mais de cinco anos após o êxodo.
Na altura, cerca de 750.000 rohingyas de Myanmar fugiram da repressão do exército, hoje objeto de uma investigação por "atos de genocídio" no Tribunal Penal Internacional (TPI).
O Bangladesh e Myanmar assinaram em 2017 um acordo para o repatriamento de refugiados, mas a pandemia de covid-19, em 2020, e o golpe militar na Birmânia, no início de 2021, mantiveram os rohingyas nos campos de refugiados, onde não podem trabalhar e dependem quase inteiramente da escassa ajuda alimentar para sobreviver.
A ONU facilitou o transporte de alguns funcionários birmaneses da delegação, com a China a desempenhar um papel de mediação. Na semana passada, o embaixador da China em Daca, Yao Wen, disse que o repatriamento deveria começar "muito em breve".
No entanto, vários refugiados rohingya disseram à agência noticiosa France-Presse (AFP) que nenhum dos seus pedidos de garantias de segurança e de reconhecimento da cidadania birmanesa obteve resposta de Rangum.
"Somos maltratados [em Myanmar]. Perguntei se agora poderíamos viver lá uma vida normal, mas [os membros da delegação de Myanmar] interromperam-me. Eles não queriam mais perguntas. Acho que não vão nos obrigar a voltar para Myanmar. Se o fizerem, não nos darão nenhum direito", disse Shamsun Nahar, um rohingya de 40 anos.
Os rohingyas, estabelecidos em Myanmar há gerações, ainda são considerados "intrusos" no país, não tendo direito à nacionalidade nem aos direitos da própria população birmanesa.
O líder da junta de Mianmar e autor do golpe de 2021, Min Aung Hlaing, que liderou as forças armadas durante a repressão de 2017, considerou que a identidade rohingya é "apenas uma ideia imaginária".
Domingo passado, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) reiterou que as condições ainda não são propícias para "um regresso seguro e duradouro" dos rohingyas a Myanmar.
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