Os incidentes envolveram a polícia antimotim israelita, que entrou hoje de madrugada na mesquita de Al-Aqsa e envolveu-se em confrontos com palestinianos que se tinham barricado no templo com pedras e fogo-de-artifício.
Os confrontos provocaram mais de uma dezena de palestinianos feridos e cerca de 400 detidos, naqueles que são os acontecimentos mais tensos da região desde que começou o mês sagrado muçulmano do Ramadão, há duas semanas.
"Israel está a trabalhar para manter o 'status quo' e acalmar as coisas", declarou o chefe do Governo israelita, que repetiu as palavras avançadas mais cedo por fonte oficial israelita.
Segundo Netanyahu, "extremistas muçulmanos entrincheiraram-se" na Mesquita Al Aqsa com "armas, pedras e fogo-de-artifício" e "impediram que outros muçulmanos viessem rezar".
Após "tentativas de negociação" falhadas, "as forças de segurança tiveram de atuar para restabelecer a ordem", especificou.
"Israel está empenhado em manter a liberdade de culto, o livre acesso a todas as religiões" e "não permitirá que extremistas violentos mudem isso", acrescentou o primeiro-ministro israelita, que não se referiu às imagens publicadas nas redes sociais, onde se veem agentes a carregarem contra fiéis muçulmanos na mesquita de Al-Aqsa.
Os confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado do Islão e um símbolo nacional para os palestinianos, foram seguidos pelo lançamento de dez foguetes pelas milícias de Gaza contra Israel, aos quais o exército israelita respondeu com bombardeamentos de retaliação contra postos militares do grupo islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
Os incidentes na mesquita já levaram a Liga Árabe, através da Jordânia, a convocar uma reunião extraordinária da organização e Marrocos, signatário dos Acordos de Abraão, a condenar "veementemente" a intervenção da polícia israelita e a denunciar a "agressão e o terror contra fiéis em pleno mês do Ramadão".
Num comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino, o reino alauita enfatizou a necessidade de se "respeitar o estatuto legal, religioso e histórico" de Al Quds (Jerusalém) e dos Lugares Sagrados e de "evitar todas as práticas e violações que possam destruir todas as possibilidades de paz na região".
"[Marrocos] reitera a rejeição de tais práticas que só complicam e agravam a situação nos territórios ocupados da Palestina e minam os esforços para aliviar as tensões e restaurar a confiança", concluiu o comunicado da diplomacia marroquina.
Aliado de Israel, Marrocos tem-se esforçado regularmente para recordar o compromisso com a causa palestiniana sob a liderança do Rei Mohammed VI, que preside o comité Al-Quds, responsável por "preservar o caráter árabe-muçulmano" de Jerusalém.
Isso não impede Rabat de desenvolver uma parceria total com Israel, focada na cooperação militar e de segurança, desde a normalização das relações bilaterais em dezembro de 2020, no âmbito dos Acordos de Abraão, um acordo entre Israel e vários países árabes negociado pelos Estados Unidos.
No entanto, a subida ao poder de correntes ultranacionalistas israelitas e a violência nos territórios ocupados tornaram-se um obstáculo a esta aproximação.
Segundo sustenta a agência noticiosa France-Presse (AFP), se a mobilização militante enfraqueceu, a causa palestiniana "continua a despertar imensa simpatia na população marroquina", pelo que conflitos contínuos em Jerusalém e na Cisjordânia podem, em última análise, minar os fundamentos dos Acordos de Abraão.
Como prova disso, indicou hoje a imprensa marroquina, citada pela AFP, a cimeira do Negev, fórum que deveria ter reunido em Marrocos, em março, os chefes da diplomacia norte-americana, israelita, egípcia, marroquina, dos emirados e do Bahrein, foi adiada indefinidamente.
Pelo segundo ano consecutivo, o mês sagrado muçulmano coincide em 2023 com as celebrações da Páscoa judaica, que começam hoje à tarde e costumam registar um aumento do número de judeus que visitam a Esplanada das Mesquitas, gerando a reação dos fiéis palestinianos.
Israel assumiu o controlo de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia em 1967 e, desde então, manteve uma ocupação e colonização desses territórios, uma das mais longas da história recente.
Por sua vez, os poucos mais de três meses de 2023 marcam o início do ano mais violento no quadro do conflito israelo-palestiniano desde 2000.
Este ano, 92 palestinianos já morreram em incidentes violentos com Israel, enquanto do lado israelita, 15 pessoas morreram em ataques perpetrados por palestinianos.
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