Recebido como uma celebridade, Macron, que conclui hoje uma visita de Estado de três dias à China, conviveu com a multidão, apertando as mãos e aceitando tirar fotografias, com os presentes na sua chegada à Universidade Sun Yat-sen, na cidade chinesa de Cantão.
Um ambiente acolhedor, que contrasta com as fortes tensões sociais dos últimos meses em França, suscitadas pela reforma do sistema de pensões.
No ginásio daquela universidade, uma das mais prestigiadas do país, várias centenas de estudantes aguardavam o "Makelong", como é chamado em chinês, para um discurso e uma sessão de perguntas e respostas.
O chefe de Estado, que fez do conflito na Ucrânia o principal tema da sua visita à China, mencionou-o desde os primeiros minutos: "Esta guerra é uma clara violação do Direito Internacional", disse.
"Este é um país que decidiu colonizar o seu vizinho, desrespeitar as regras, reposicionar armamento e invadi-lo", insistiu, referindo-se à Rússia.
Na quinta-feira, numa reunião com o líder chinês, Xi Jinping, o presidente francês pediu à China para "trazer a Rússia à razão", em relação à Ucrânia.
"A ordem internacional está hoje enfraquecida e temos a responsabilidade, China e França, de a preservar e, ao mesmo tempo, reinventá-la, à luz das realidades do século XXI", disse aos estudantes na sexta-feira.
Três alunos puderam então fazer perguntas, num francês quase perfeito, o que impressionou Macron. "Eu seria incapaz de fazer o mesmo", reagiu, fazendo a plateia rir.
Não houve perguntas sobre política ou o conflito na Ucrânia, mas sim perguntas sobre as qualidades a esperar de um bom aluno, a emergência da Inteligência Artificial e os desafios de saúde pública.
Macron aproveitou a oportunidade para sublinhar a importância do pensamento crítico.
"O pensamento crítico (...) não é no espírito de criticar os outros, não é negativo, mas é questionar-se a si próprio sobre a natureza do conhecimento que lhe é transmitido", afirmou.
"É isso que nos torna independentes e capazes de julgar e, por vezes, distinguir o verdadeiro do falso, de colocar as coisas no seu contexto", acrescentou o chefe de Estado. "E é isso que torna possível tornar-nos indivíduos livres e racionais", insistiu.
Na China, os órgãos de comunicação são estatais e a Internet é submetida a censura, sobretudo em questões de natureza política ou histórica. Muitos cidadãos ou utilizadores têm medo de expressar qualquer crítica, por medo de represálias.
Mas "uma mente que só tenha conhecimento sem pensamento crítico não é totalmente livre", apontou Macron. Uma pessoa sem pensamento crítico "realmente não saberia o que fazer com [o conhecimento] ou seria simplesmente objeto de propaganda ou de um projeto que não é seu", apontou.
O presidente francês vai jantar hoje com Xi Jinping, antes de reunir com investidores chineses à noite.
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