"As autoridades devem parar os ataques e ameaças contra a liberdade de imprensa e de expressão e proteger os jornalistas", afirmou a diretora regional da organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional para a África Ocidental e Central, Samira Daoud, citada num comunicado enviado à France-Presse (AFP).
"A luta contra os grupos armados e a insegurança não pode ser pretexto para restringir a liberdade de imprensa e o direito dos cidadãos de acesso à informação", acrescentou.
Na semana passada, as jornalistas Sophie Douce (Le Monde) e Agnès Faivre (Libération) foram expulsas do Burkina Faso, após terem sido intimadas pela Segurança do Estado, o órgão responsável pela inteligência interna.
No final de março, o canal France 24 foi suspenso após a transmissão de uma coluna de um dos seus jornalistas, que decifrou uma entrevista que lhe foi dada pelo líder do grupo terrorista Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQIM). Apenas um pequeno trecho de áudio da entrevista, destinado a autenticá-la, foi transmitido.
A Radio France Internationale (RFI), por sua vez, está suspensa há quatro meses no país.
Segundo a Amnistia Internacional, estas expulsões e suspensões marcam "um ponto de viragem preocupante na violação do direito à liberdade de expressão por parte das autoridades".
"Expulsar jornalistas por terem feito o seu trabalho de informação e sem um documento oficial justificando esta medida é abusivo. Pedimos às autoridades que devolvam aos jornalistas os seus direitos e permitam que continuem o seu trabalho", disse Daoud.
A Amnistia denuncia "ameaças e ataques" contra vários jornalistas burquinabés desde o início do ano.
Na quinta-feira, a ONU disse estar "profundamente preocupada" com as restrições aos media e ao espaço cívico.
O governo burquinabé, que até agora não reagiu à expulsão das jornalistas, garantiu no final de março que continuava "fundamentalmente apegado" à liberdade de expressão e opinião, segundo seu porta-voz Jean-Emmanuel Ouedraogo.
O Burkina Faso é governado desde o final de setembro pelo capitão Ibrahim Traoré, que chegou ao poder através de um golpe de Estado, o segundo em oito meses.
Desde 2015, o país vive uma espiral de violência perpetrada por grupos jihadistas ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda, que causaram um total de 10.000 mortos - civis e militares - segundo organizações não-governamentais (ONG), e cerca de dois milhões de deslocados internos.
Leia Também: Burkina Faso nega aproximação ao grupo Wagner mas quer ajuda da Rússia