Numa declaração, o representante da ONU denunciou que "a cessação humanitária das hostilidades" acordada domingo entre as Forças Armadas e as Forças de Apoio Rápido (RFS, na sigla em inglês, língua oficial a par do arábico) "foi apenas parcialmente cumprida", apesar do compromisso das partes.
A trégua ocorreu entre as 16h00 e as 19h00 de domingo e permitiu a abertura de corredores humanitários nos principais centros urbanos do país, especialmente na capital, Cartum, embora os combates continuassem em zonas mais afastadas das zonas residenciais.
Esta breve pausa permitiu a saída de mais de mil pessoas na capital, segundo disseram à agência EFE fontes do Crescente Vermelho Sudanês, como foi o caso de uma escola no centro de Cartum, da qual cerca de 450 crianças que tinham ficado presas na escola desde que começaram os combates, no sábado, puderam sair.
O enviado da ONU também denunciou que "os combates se intensificaram esta manhã" em várias zonas do país e reiterou o apelo às partes para "respeitarem as suas obrigações internacionais, incluindo a de assegurar a proteção de todos os civis".
Entretanto, o comandante das RFS, Mohamed Hamdan Dagalo, exigiu hoje que a comunidade internacional "interceda" contra as forças do líder do exército sudanês, Abdelfatah al Burhan, que descreveu como um "islamista radical que bombardeia civis a partir do ar".
"A comunidade internacional deve agir agora e intervir contra os crimes do general sudanês Abdelfatah al Burhan, um islamista radical que bombardeia civis a partir do ar".
O seu exército está a fazer uma campanha brutal contra pessoas inocentes", disse Dagalo, mais conhecido como Hemedti, na sua conta do Twitter.
O general avisou que os seus combatentes "continuarão a perseguir al-Burhan" até que "ele seja levado à justiça", justificando que os combates eclodiram no sábado, em "resposta ao cerco e assalto" às unidades das RFS.
Os confrontos, que vão já no terceiro dia, causaram a morte de pelo menos 97 civis e quase mil feridos, de acordo com o Comité Médico Central Sudanês, que alertou que o número de vítimas poderia ser muito superior devido às dificuldades de acesso das equipas de emergência às áreas no oeste do país, onde os combates se intensificaram.
O conflito eclodiu na manhã de sábado entre o exército, liderado pelo general Abdelfatah al Burhan, e as RFS, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, que antes de lançar a rebelião numa tentativa de tomar o poder no Sudão era o número dois do Conselho Soberano Sudanês, o mais alto órgão executivo do país, presidido pelo próprio Al Burhan.
Os dois militares uniram forças para levar a cabo o golpe de outubro de 2021, que depôs o Governo civil que emergiu da chamada revolução sudanesa de 2019, que derrubou o antigo Presidente islamista Omar al-Bashir, após três décadas no poder.
Após a revolta de 2021, tanto al-Burhan como Hemedti comprometeram-se a não envolver os militares nos assuntos políticos do Sudão e a iniciar um processo para devolver o país a um caminho democrático e formar um Governo civil.
No entanto, as diferenças entre os dois militares intensificaram-se há algumas semanas, no meio de negociações para chegarem a um acordo final com grupos civis, e as tensões chegaram ao fim no sábado, quando o exército atacou posições das RFS, numa aparente resposta a um ataque anterior.
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