"Estamos lutando em legítima defesa e enfrentando um golpe de Al-Burhan", disse Mohamed Hamdan Dagalo, vulgo "Hemedti", em declarações ao canal de televisão Al Jazeera, antes de indicar que as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) estão a pedir "uma verdadeira transição democrática".
"Al-Burhan é que iniciou os combates e é o responsável pela morte de cidadãos sudaneses, pelo que não haverá negociações com ele", sublinhou "Hemedti".
Assim, indicou que "a única solução para resolver a crise é entregar Al-Burhan à Justiça" e que o chefe do Exército é "usado por outros partidos".
"Ele não tem capacidade para tomar decisões. O nosso objetivo é evitar problemas para o país", disse Dagalo, sublinhando que as RSF têm apoiado um cessar-fogo, mas "a outra parte não quer".
"Fomos contactados por todas as partes, incluindo os Estados Unidos e a União Africana (UA), para implementar uma trégua", revelou, sublinhando que as RSF "não têm objeções" à declaração de cessação das hostilidades por ocasião do 'Eid al Fitr', data que marca o fim do mês do Ramadão e que será celebrada na sexta-feira.
Por outro lado, "Hemedti" negou que as RSF tenham recebido apoio do exterior e apontou que "são falsas acusações feitas por Al-Burhan", após o The Wall Street Journal noticiar que o general líbio Khalifa Haftar, alinhado com as autoridades paralelas estabelecidas no leste da Líbia, enviou pelo menos um avião com suprimentos militares para as RSF.
O porta-voz do Exército Nacional da Líbia (ELN) - encabeçado por Haftar -, Ahmed al-Mismari afirmou hoje que "rejeita categoricamente a informação de alguns meios de comunicação pagos de que o ELN está apoiando um partido em detrimento do outro", antes de defender "unidade, estabilidade e coesão" no Sudão.
O líder das RSF também reconheceu que o Exército assumiu o controle do aeroporto de Meroue, localizado no norte do país e um dos epicentros dos combates, embora tenha argumentado que a "retirada" dos paramilitares nas instalações ocorreu depois de receber "garantias" de segurança.
As hostilidades eclodiram no sábado no contexto de um aumento das tensões sobre a reforma do aparelho de segurança e a integração da força paramilitar nas Forças Armadas, parte fundamental de um acordo assinado em dezembro para formar um novo governo civil e reativar a transição.
Segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), os confrontos já provocaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridos.
O processo de conversações começou com mediação internacional após o chefe do Exército e presidente do Conselho Soberano de Transição, Abdel Fattah al-Burhan, liderar um golpe em outubro de 2021, que derrubou o então primeiro-ministro de unidade, Abdalá Hamdok, nomeado para o cargo como resultado de contactos entre civis e militares após o motim de abril de 2019, que pôs fim a 30 anos do regime de Omar Hasan al-Bashir.
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