ONG regista aumento "sem precedentes" de desnutrição infantil na Nigéria

A organização não-governamental (ONG) internacional Médicos Sem Fronteiras registou um aumento "sem precedentes" de crianças internadas por desnutrição no estado de Borno, noroeste da Nigéria, desde o início do ano, e alertaram para o risco de uma "catástrofe" humanitária.

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Lusa
28/04/2023 20:00 ‧ 28/04/2023 por Lusa

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Nigéria

"Nunca vimos nada assim desde que iniciámos as nossas operações aqui em 2017", afirmou em comunicado Htet Aung Kyi, coordenador médico da ONG.

Desde o início de janeiro até 20 de abril, 1.283 crianças desnutridas foram admitidas para cuidados intensivos no centro de alimentação terapêutica da Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Maiduguri, capital de Borno, um aumento de 120% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em janeiro, cerca de 75 crianças foram admitidas por semana devido a desnutrição aguda grave, o triplo da média para o mesmo período nos últimos anos, enquanto no início de abril esse número subiu para cerca de 150, o dobro do número em 2022.

O estado de Borno é alvo de incursões de fundamentalistas islâmicos.

Além disso, estes números já estão a ser registados nos meses e semanas que antecedem o chamado "hiato da fome", altura em que as reservas alimentares das colheitas se esgotam e os níveis de subnutrição disparam, alertou a organização.

"O enorme aumento do número de crianças subnutridas exige um reforço imediato das atividades de prevenção e tratamento da subnutrição, a fim de evitar uma situação catastrófica quando chegar o período de fome", afirmou Htet Aung Kyi.

A população de Maiduguri foi atingida por anos de conflito e insegurança provocados pelo extremismo islâmico, obrigando à deslocação de muitas pessoas para campos informais ou de detenção, no caso de antigos membros de grupos armados e respetivas famílias, onde vivem em condições "precárias", lamentou a MSF, que apelou ao aumento do financiamento humanitário para o país.

O nordeste da Nigéria sofre com a violência do Boko Haram desde 2009, que se agravou a partir de 2016 com o surgimento do seu grupo dissidente, o Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP, na sigla em inglês).

As duas organizações extremistas pretendem impor um Estado de tipo islâmico na Nigéria, país maioritariamente muçulmano no norte e predominantemente cristão no sul.

O Boko Haram e o ISWAP já mataram mais de 35 000 pessoas e provocaram cerca de 2,7 milhões de deslocados internos, principalmente na Nigéria, mas também em países vizinhos como os Camarões, o Chade e o Níger, segundo dados do governo e da Organização das Nações Unidas.

Leia Também: Dez mortos em explosão de camião cisterna na Nigéria

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