Nagorno-Karabakh. Rússia diz não existir alternativa à mediação russa

A Rússia afirmou hoje que "não existe alternativa" à mediação russa entre a Arménia e o Azerbaijão sobre a região do Nagorno-Karabakh, num momento em que Washington acolhe negociações entre os dois países.

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© Sergei Bobylev\TASS via Getty Images

Lusa
02/05/2023 15:40 ‧ 02/05/2023 por Lusa

Mundo

Nagorno-Karabakh

"Na atual situação, não existem outras bases jurídicas que contribuam para a resolução [do conflito]. Não existe alternativa a esses documentos tripartidos", declarou aos 'media' Dmitri Peskov, porta-voz da Presidência russa, numa referência ao cessar-fogo assinado em 2020 entre Baku e Erevan sob a égide de Moscovo.

"Pode ser bem-vinda qualquer ajuda que possa contribuir para a resolução do conflito", prosseguiu Peskov, apesar de referir que desconfia das "tentativas que comprometem as bases para uma resolução" pacífica do diferendo.

Na sequência de uma curta mas sangrenta guerra no outono de 2020 que permitiu ao Azerbaijão retomar territórios desta região separatista de maioria arménia, Baku e Erevan assinaram um cessar-fogo promovido pela Rússia.

Um contingente de soldados russos de manutenção da paz foi de seguida estacionado no Nagorno-Karabakh, mas há vários meses que a Arménia se tem referido à sua ineficácia.

O isolamento russo na cena internacional, devido ao conflito na Ucrânia, tem limitado a margem de manobra de Moscovo, que agora está a ser aproveitada pelos Estados Unidos da América (EUA).

As sistemáticas tensões entre a Arménia e o Azerbaijão agravaram-se após Baku ter anunciado em 23 de abril a instalação de um posto de controlo à entrada do corredor de Lachin, a única via que estabelece ligação entre a Arménia e o Nagorno-Karabakh.

Baku justificou a sua decisão por motivos securitários, enquanto Erevan denunciava uma violação do cessar-fogo negociado em 2020.

No final de abril, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian, pediu à Rússia que assumisse o controlo dessa estrada vital.

"À exceção da Rússia, ninguém tem o direito de controlar a corredor", afirmou então Pachinian, assegurando que o objetivo de Baku consiste em fomentar "a limpeza étnica dos arménios do Nagorno-Karabakh".

Neste contexto, Washington -- que com Moscovo e Paris copreside ao designado "Grupo de Minsk" da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) sobre o conflito --, tenta relançar por sua iniciativa as conversações de paz após as tentativas da Rússia e União Europeia (UE) nos últimos meses, sem resultados concretos.

As discussões, conduzidas pelo secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, devem prolongar-se até quinta-feira na presença dos chefes da diplomacia dos dois países, o arménio Ararat Mirzoyan e o azeri Djeyhoun Bairamov.

Em novembro passado, e de seguida em fevereiro, Blinken participou em duas reuniões trilaterais à margem da Conferência sobre a Segurança de Munique (Alemanha), mas que não resultaram em qualquer acordo.

O enclave do Nagorno-Karabakh, com maioria de população arménia cristã ortodoxa, declarou a independência do Azerbaijão muçulmano após uma guerra no início da década de 1990 que provocou cerca de 30.000 mortos e centenas de milhares de refugiados.

Na sequência deste conflito foi assinado um cessar-fogo em 1994 e aceite a mediação do Grupo de Minsk (Rússia, França e Estados Unidos), constituído no seio da OSCE, mas as escaramuças armadas continuaram a ser frequentes, e implicaram graves confrontos em 2018.

Cerca de dois anos depois, no outono de 2020, a Arménia e o Azerbaijão enfrentaram-se durante seis semanas pelo controlo do enclave durante uma nova guerra e com pesada derrota arménia, que perdeu uma parte importante dos territórios que controlava há três décadas.

Após a assinatura de um acordo sob mediação russa, o Azerbaijão, apoiado militarmente pela Turquia, registou importantes ganhos territoriais e Moscovo enviou uma força de paz de 2.000 soldados para a região do Nagorno-Karabakh.

Apesar do tímido desanuviamento diplomático, os incidentes armados permaneceram frequentes na zona ou ao longo da fronteira oficial entre os dois países, culminando nos graves incidentes fronteiriços de setembro.

Em 10 de janeiro passado, e numa atitude inédita, a Arménia anunciou que iria recusar receber este ano as manobras militares conjuntas no quadro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC, uma aliança militar liderada pela Rússia e que junta seis repúblicas ex-soviéticas), devido à insatisfação pelo bloqueio do corredor de Lachin.

Leia Também: Arménia pede à Rússia que controle estrada vital para Nagorno-Karabakh

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