"A nossa visão é que precisamos de melhores canais entre os dois Governos e canais mais profundos e estamos prontos para conversar. É particularmente importante fazer isso quando se tem grandes problemas e grandes desentendimentos no relacionamento", disse o diplomata numa entrevista ao The Stimson Center, um 'think tank' sem fins lucrativos com sede em Washington.
"Nunca tivemos vergonha de falar e esperamos que os chineses se encontrem connosco a meio do caminho", acrescentou Burns, que assumiu o cargo em dezembro de 2021.
Num balanço do seu trabalho desde que chegou a Pequim, Nicholas Burns admitiu que o relacionamento entre os dois países continua complicado.
"Acho que desde que cheguei à China, há 14 meses, vimos uma continuação de todo aquele relacionamento difícil em que tentamos estabilizar os laços entre nós, aprofundar os canais entre nós. E, claro, eu represento o Presidente Joe Biden. Temos uma política muito clara. E o que estamos a tentar fazer desde que o Presidente assumiu é investir na força do nosso próprio país, nessa competição de longo prazo com a China no campo económico, tecnológico e de segurança militar", disse.
O diplomata garantiu que Washington não procura conflitos com Pequim e acredita que um maior diálogo seria construtivo para as relações entre ambas as potências.
"Não queremos um conflito com a China. Não queremos voltar a uma Guerra Fria com a China. Precisamos de maior estabilidade nesta relação. (...) Queremos estabilidade no relacionamento", insistiu.
Os comentários de Burns surgem quando o executivo de Biden procura restaurar um diálogo mais amplo com a China num momento em que as tensões permanecem conturbadas devido a questões como Taiwan, comércio e alegada espionagem, após um balão chinês ter entrado no espaço aéreo norte-americano e que levou ao cancelamento de uma viagem do secretário de Estado, Antony Blinken, à China em fevereiro passado.
Sobre a viagem de Blinken, Burns reiterou que será remarcada "quando as condições forem apropriadas para a sua visita", acrescentando que os EUA estão prontos para "um envolvimento mais amplo".
"É difícil para mim prever, neste momento, quando esse tipo de envolvimento vai ocorrer novamente, mas nunca apoiamos o congelamento desse relacionamento", disse Burns.
Sobre o impacto destes últimos meses tumultuosos nas relações entre Washington e Pequim, o embaixador referiu que a visita da ex-presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi a Taiwan no verão passado levou os "chineses a fecharem os canais" de contacto.
"Os chineses fecharam os canais logo após a saída de Pelosi de Taiwan. Fecharam oito canais diferentes entre nós, incluindo três dos nossos canais militares mais importantes. (...) Eles encerraram as nossas conversas antinarcóticos", apontou.
No entanto, o diplomata afirmou que, depois do Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, conseguiu ter "boas" reuniões com autoridades chinesas, e apontou ainda o encontro de Joe Biden com o homólogo chinês, Xi Jinping, em Bali, como "um intercâmbio muito bom e produtivo".
Burns enfatizou que nas últimas semanas tem conseguido manter uma comunicação consistente com altos funcionários do Ministério das Relações Exteriores da China, considerando isso "um bom sinal".
O embaixador disse que a política de Washington em relação a Taiwan -- uma fonte crescente de tensão com Pequim -- não mudou. Mas pediu à China que renuncie ao uso da força nas suas negociações com a ilha autónoma.
Sobre a guerra da Rússia na Ucrânia, Nicholas Burns afirmou que a imprensa chinesa responsabiliza diariamente os Estados Unidos e a NATO pelo conflito, algo que considera "obviamente um absurdo".
"O que precisamos ver da China é que pressione a Rússia a retirar as suas tropas, para que a Ucrânia possa ter todo o seu território de volta e ser totalmente soberana novamente em todos os aspetos dessa palavra. Seria útil se a China pressionasse a Rússia a parar de bombardear escolas, hospitais e apartamentos ucranianos", disse.
"Vimos tremendas perdas de vidas apenas nos últimos dois meses por ataques aéreos russos e ataques de drones contra civis ucranianos. Então, é isso que gostaríamos e tenho a certeza que é isso que os países europeus gostariam, é isso que a Ucrânia quer da China. Certamente gostaríamos de ver a China ser muito mais dura em relação aos russos", acrescentou o diplomata veterano.
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