"Estes compromissos são um pré-requisito para uma ação humanitária em grande escala", afirmou aos jornalistas em Genebra, numa videoconferência a partir de Porto Sudão, de onde adiantou que seis camiões que transportavam ajuda alimentar para o Darfur tinham sido saqueados "no caminho".
"Portanto, o ambiente é instável. Por isso, precisamos destes compromissos, essa é uma das obrigações que tenho, penso eu, nesta visita à região", afirmou.
O alto funcionário da ONU esteve no Porto Sudão, na quarta-feira, de onde a ONU se retirou devido à guerra pelo poder entre dois generais rivais, que está a dividir o país desde 15 de abril.
"As discussões que tive aqui e as que tive a caminho de Nairobi tornaram claro para mim que o desejo e a vontade das agências humanitárias de atuar são mais fortes do que nunca", afirmou.
"O segundo aspeto em que já comecei a trabalhar aqui hoje é garantir que temos compromissos públicos, claramente assumidos pelos militares, para proteger o funcionamento dos sistemas humanitários", explicou.
Os primeiros carregamentos de ajuda humanitária estão a chegar ao país, um dos mais pobres do mundo, onde uma em cada três pessoas dependia da ajuda humanitária antes da guerra.
O responsável da ONU adiantou que espera reunir-se com os principais líderes das frações armadas para obter garantias de que a ajuda humanitária possa ser entregue em condições seguras.
"Queremos reunir-nos com os dois líderes o mais rapidamente possível, separadamente e cara a cara, para lhes explicar o que exigimos, para que fique claro quais os compromissos que podemos realisticamente obter e o que eles podem realisticamente esperar de nós em troca, em termos de ajuda às pessoas", explicou.
Atualmente, a distribuição da ajuda é extremamente difícil devido ao elevado risco de vida para os trabalhadores humanitários e às más condições de circulação no interior do país. Os carregamentos humanitários recebidos em Porto Sudão ainda não chegaram a locais como Darfur ou à capital, Cartum, onde os combates têm sido intensos.
Griffith afirmou que a ONU tem um plano para o destacamento do seu pessoal humanitário e para fazer chegar os fornecimentos essenciais - tais como material médico, alimentos e água - aos civis necessitados, mas insistiu que "é necessário clarificar" as condições de segurança.
O comissário afirmou que esta é a única forma de pôr em prática um plano de ajuda em grande escala no país, do qual 100.000 pessoas fugiram em duas semanas e centenas morreram nas várias zonas onde se registaram combates.
"Exigimos um compromisso claro e público de ambas as partes no conflito e ao mais alto nível de que a assistência humanitária será protegida, mesmo na ausência de um cessar-fogo formal", disse.
O Programa Alimentar Mundial, um dos principais braços humanitários da ONU, informou hoje que seis camiões que transportavam ajuda destinada ao Darfur foram saqueados, sem especificar em que circunstâncias.
O Sudão entrou hoje no 19.º dia consecutivo de confrontos entre o exército e as RSF, um conflito que já fez pelo menos 550 mortos e mais de 4.200 feridos e obrigou milhares de sudaneses a deslocarem-se para zonas mais seguras do país ou a refugiarem-se em nações vizinhas como o Sudão do Sul, o Egito ou o Chade.
As duas partes envolvidas no conflito realizam hoje o terceiro e último dia de uma trégua, a terceira consecutiva, apesar de se continuarem a registar confrontos.
O Sudão do Sul, país vizinho e mediador desta trégua, anunciou hoje que os dois chefes militares rivais, os generais Abdel Fattah al-Burhan e Mohamed Hamdan Dagalo, acordaram em princípio numa trégua de sete dias a partir desta quinta-feira.
Os combates iniciaram-se após semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança nas negociações para a formação de um novo governo de transição. Ambas as forças estiveram por trás do golpe conjunto que derrubou o executivo de transição do Sudão em outubro de 2021.
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