Kyriakos Mitsotakis, que também enfrenta eleições na Grécia este mês, disse estar disposto a falar "com quem quer que saia vitorioso" das eleições do próximo domingo na Turquia, apesar das tensões de longa data entre Atenas e Ancara.
"Não sou inocente", disse Mitsotakis à agência norte-americana Associated Press numa entrevista em Volos, centro da Grécia, sublinhando estar consciente de que há políticas que demoram a pôr em prática.
"Sei que as políticas externas dos países não mudam de um dia para o outro", disse o primeiro-ministro grego referindo-se à Turquia.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan que liderou o país como primeiro-ministro e Presidente desde 2003, enfrenta eleições numa altura de dificuldades económicas tendo perdido algum terreno para o principal rival, Kemal Kilicdaroglu.
Apesar de ser membro da Aliança Atlântica, tal como a Grécia, as relações entre a Turquia e os Estados Unidos e países da União Europeia têm sido marcadas por tensões sobretudo por causa da adesão da Suécia à NATO.
Ancara tem pressionado Estocolmo a reprimir os ativistas curdos que considera "terroristas".
"Espero que o próximo Governo turco reconsidere globalmente a abordagem em relação ao Ocidente, não só em relação à Grécia, mas também em relação à Europa, à NATO e aos Estados Unidos", disse Mitsotakis.
"Mas, mais uma vez, tenho de ser realista e não ser demasiado ingénuo. É por isso que vamos continuar firmes com a nossa política externa. Isto significa que vamos continuar a reforçar as nossas capacidades de dissuasão e as nossas capacidades de defesa", afirmou o primeiro-ministro grego.
A Grécia e a Turquia estão em desacordo sobre várias questões como as fronteiras marítimas no Mediterrâneo.
Nos últimos anos, as relações bilaterais foram seriamente afetadas, com a presença de navios de guerra dos dois países, tendo as autoridades turcas ameaçado invadir as ilhas gregas.
Em resposta, a Grécia deu início a um vasto programa de aquisição de equipamento militar para modernizar as Forças Armadas, incluindo a compra de aviões de combate de fabrico francês.
"Gostaria de não ter de gastar muito mais do que 02% do meu Produto Interno Bruto (PIB) na Defesa. Mas, infelizmente, vivemos numa vizinhança precária com um país muito maior do que nós que também se tem comportado de forma agressiva", disse Mitsotakis.
O primeiro-ministro grego afirmou ainda que espera tirar partido de uma "redução da retórica" agressiva após os terramotos devastadores que atingiram a Turquia (e o norte da Síria) em fevereiro e que causaram dezenas de milhares de mortos.
A melhoria das relações após os terramotos que atingiram a Turquia e a Grécia em 1999 prolongou-se durante vários anos.
"É uma pena. Não devíamos esperar que aconteça uma catástrofe, nem estamos destinados a viver num estado de tensão permanente", disse Mitsotakis sublinhando que a melhoria das relações exige o fim da "retórica agressiva" da Turquia.
"Se o Governo turco fala todos os dias em invadir as nossas ilhas, é óbvio que isso não é muito favorável à criação de um clima de confiança e de boa vontade", afirmou.
Mitsotakis, 55 anos, formado em Harvard, Estados Unidos, dirige o partido de direita Nova Democracia desde 2016 e tornou-se primeiro-ministro em 2019.
A Nova Democracia enfrenta eleições no próximo dia 21 de maio contra o líder da oposição, o ex-primeiro-ministro de esquerda Alexis Tsipras, líder do Syriza.
Devido a uma alteração da lei eleitoral grega é pouco provável que o vencedor da votação obtenha os votos suficientes para formar um governo sem procurar parceiros de coligação.
Se nenhum partido conseguir formar um governo, realiza-se uma segunda eleição em junho, altura em que segundo a legislação eleitoral o partido vencedor é beneficiado de um bónus no número de lugares no Parlamento.
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