Pela primeira vez, graças a uma resolução aprovada em novembro, as Nações Unidas comemoraram hoje na sua sede, em Nova Iorque, na presença de Abbas, o que os palestinianos chamam de "Catástrofe" ("Nakba" em árabe), o deslocamento em massa de palestinianos em 1948.
"Agora exigimos formalmente, de acordo com o direito internacional e as resoluções (da ONU), que seja assegurado que Israel respeite essas resoluções ou que a adesão de Israel à ONU seja suspensa", disse o Presidente da Autoridade Palestina, num discurso de uma hora.
Abbas, cujo "Estado da Palestina" tem estatuto de observador na ONU, falou em árabe durante uma sessão especial do Comité para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano, onde estiveram presentes dezenas de embaixadores nas Nações Unidas.
O representante de Israel, Gilad Erdan, escreveu aos seus homólogos de outros Estados-membros instando-os a "não participar" nesta reunião que classificou como "evento abominável" e uma "tentativa flagrante de distorcer a história"
Erdan argumentou que os presentes estariam a tolerar o antissemitismo e a dar 'luz verde' aos palestinianos "para continuarem a explorar órgãos internacionais para promover a sua narrativa caluniosa".
Segundo o Ministério das Relações Exteriores israelita, 32 Estados, incluindo Estados Unidos, Canadá, Ucrânia e 10 países da União Europeia, estiveram ausentes.
Por sua vez, a subsecretária-geral da ONU para Assuntos Políticos e Consolidação da Paz, Rosemary DiCarlo, reafirmou a "posição clara das Nações Unidas": a ocupação deve terminar porque é "ilegal de acordo com o direito internacional".
Num discurso forte e emocionado, Abbas também atacou as potências "coloniais", que seriam "a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, que têm uma responsabilidade direta, política e moral na Nakba".
Segundo o dirigente, a "catástrofe" sofrida pelos palestinianos "não começou em 1948 e não terminou depois dessa data".
Israel, potência ocupante, "continua a sua ocupação e a sua agressão contra o povo palestiniano, continua a desmentir a Nakba e rejeita resoluções internacionais sobre o retorno de refugiados palestinos", disse Abbas.
A ONU estima que os palestinianos de 1948 ainda vivos e os seus descendentes formam um grupo de 5,9 milhões de refugiados espalhados pela Cisjordânia ocupada, Faixa de Gaza, Jordânia, Líbano e Síria.
O êxodo e o conflito armado a partir de 15 de maio de 1948 constituíram uma "Catástrofe" que os palestinianos assinalam todos os anos, enquanto os israelitas comemoram a independência do seu Estado, proclamada em 14 de maio de 1948.
Para o Presidente Abbas, nascido em 1935 e no poder desde 2005, Israel "nunca cumpriu as suas obrigações e os pré-requisitos para ser membro" da ONU desde a sua independência em 1948, após uma resolução de 29 de novembro de 1947 dividindo a Palestina em dois Estados judeus e árabes.
Abbas contou "cerca de 1.000 resoluções desde 1947 votadas pela Assembleia Gera, pelo Conselho de Segurança e pelo Conselho de Direitos Humanos" das Nações Unidas. "Até hoje nenhuma resolução foi implementada", acusou.
Leia Também: ONU defende independência da Palestina no 75º aniversário da 'Nakba'