Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Força Conjunta do Grupo dos Cinco (G5) para o Sahel, a secretária-geral adjunta para África, Martha Pobee, apresentou o relatório semestral sobre a situação na região, frisando a necessidade de se alcançarem "desesperadamente" avanços resolutos na luta contra o terrorismo, extremismo violento e o crime organizado.
Pobee indicou que grupos armados não estatais continuam a realizar ataques em larga escala contra alvos civis e militares e a envolverem-se em confrontos pelo acesso a recursos, controlo territorial e influência.
De acordo com a secretária-geral adjunta, a crise de segurança está a exacerbar uma "situação humanitária já terrível", dando como exemplo Burkina Faso, onde cerca de 4,7 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária este ano - face a 3,5 milhões em 2022 - e onde há mais de dois milhões de pessoas deslocadas internamente.
"No Mali, impressionantes 8,8 milhões de pessoas precisarão de assistência humanitária este ano, em comparação com 7,5 milhões em 2022. Mulheres e crianças ainda sofrem o impacto da violência e insegurança alimentar", apontou.
Em relação à Força Conjunta do G5 para o Sahel, Martha Pobee avaliou que têm sido feitos "progressos constantes" na sua operacionalização, que ganhou experiência prática e desenvolveu maior eficiência nas suas operações, particularmente em coordenação e capacidade de resposta.
No contexto das mudanças estratégicas e operacionais na região, incluindo a reconfiguração das forças europeias e francesas, a retirada do Mali do G5 Sahel e da intensificação das ameaças na fronteira tríplice, a Força Conjunta está ainda a reestruturar-se face a essas novas realidades.
"Embora a reconfiguração da Força Conjunta tenha resultado na cessação de grandes operações militares desde janeiro, os Estados-membros do G5 Sahel parecem determinados em fortalecer a cooperação intrarregional, inclusive estabelecendo mecanismos de cooperação bilateral e multilateral com as Forças Armadas do Mali na luta contra o terrorismo. (...) No entanto, apesar desses esforços, a insegurança na área da fronteira tríplice continua a crescer", observou a funcionária da ONU.
Perante o corpo diplomático, Pobee recordou que o acordo tripartido entre a União Europeia, o G5 Sahel e as Nações Unidas deverá terminar em junho, o que levará ao fim do apoio logístico e operacional da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (Minusma) à Força Conjunta.
A secretária-geral adjunta alertou ainda para a falta de consenso entre parceiros e doadores sobre o tipo de mecanismo de apoio mais eficaz para a Força Conjunta, o que "provou ser um obstáculo significativo para a sua operacionalização".
"Infelizmente, os esforços da comunidade internacional ficaram aquém do necessário para tornar a Força Conjunta totalmente operacional e autónoma com capacidade para ajudar a estabilizar a região do Sahel", lamentou Pobee.
"Seja como for, o fim do acordo tripartido entre a União Europeia, o G5 Sahel e as Nações Unidas constitui uma oportunidade para refletir sobre como a comunidade internacional deve renovar as suas abordagens de apoio aos mecanismos de segurança regional", afirmou.
Martha Pobee reforçou que sem avanços significativos na luta contra o terrorismo, o extremismo violento e o crime organizado no Sahel será cada vez mais difícil reverter a trajetória de segurança na região e a expansão da insegurança em direção aos países costeiros da África Ocidental.
"A recente instabilidade a leste do Sahel, no Sudão, é mais um motivo de preocupação. Os efeitos devastadores da contínua desestabilização do Sahel seriam sentidos muito além da região e do continente africano", sublinhou.
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