Todos os doentes apresentavam "vários tipos de traumatismos", na sua maioria resultantes de "ferimentos de bala ou ferimentos provocados pelas explosões causadas pelos ataques aéreos e bombardeamentos em curso nas zonas urbanas da capital", declarou a organização em comunicado.
Os MSF lamentam, mais uma vez, as sérias dificuldades que os centros médicos do país enfrentam para continuar a trabalhar, quer devido a danos materiais, quer devido à falta de pessoal, uma vez que "muitas pessoas fugiram e as que ficaram têm grande dificuldade em deslocar-se em segurança pela cidade".
O Hospital Universitário de Bashair, no sul de Cartum, foi uma dessas instalações médicas que teve de fechar completamente durante algum tempo.
"Quando a nossa equipa cirúrgica chegou ao sul de Cartum, encontrámos um hospital onde as pessoas se estão a matar a trabalhar e a correr riscos reais", disse o coordenador de emergência dos MSF, Will Harper.
Médicos e enfermeiros, ajudados por um grupo de jovens da comunidade, tomaram a decisão de tentar reativar o hospital depois de este ter sido encerrado e de os seus trabalhadores hospitalares terem partido à procura de segurança.
Atualmente, no entanto, as negociações abertas entre as duas partes na Arábia Saudita parecem ter tido um efeito positivo.
"A situação está a melhorar", acrescentou Hisham Eid, médico dos MSF, "e conseguimos tratar eficazmente muitos doentes".
De acordo com Harper, os MSF também registaram progressos nos cuidados pós-operatórios, no controlo das infeções e em todas as questões que constituem um desafio diário em qualquer hospital e que são especialmente difíceis quando há restrições de água, eletricidade e material médico.
Desde que a equipa dos MSF começou a trabalhar no hospital, a 9 de Maio, foram realizadas mais de 240 intervenções cirúrgicas, incluindo cerca de quatro grandes operações por dia. Os casos complexos e críticos representam uma proporção significativa do número total de pacientes com necessidades urgentes.
"Tratámos muitos pacientes com ferimentos de bala e facadas que estavam gravemente feridos e que não teriam sobrevivido sem cirurgia", explica o cirurgião dos MSF, Shahzid Majeed, acrescentando que "muitos deles tinham ferimentos no peito, abdómen, fígado, baço, rim e intestino. Também realizámos cirurgias de reconstrução vascular, sem as quais os doentes teriam morrido ou perdido um membro", concluiu.
Os MSF e outras organizações têm doado material médico aos hospitais de Cartum e de outras zonas a partir das reservas já existentes no país, mas os atrasos na chegada dos materiais ao Sudão e às zonas onde são mais necessários - tanto logísticos como administrativos - constituem um grave problema.
"A obtenção de combustível para fazer funcionar os geradores é uma grande preocupação, uma vez que o fornecimento de eletricidade é, na melhor das hipóteses, intermitente. Noutros, é simplesmente inexistente", lamenta a ONG.
"O conflito não mostra sinais de terminar neste momento, pelo que é necessário que mais material e pessoal médico cheguem às áreas mais necessitadas para garantir que as pessoas que estão a sofrer os efeitos da violência, ou que foram feridas, tenham acesso a cuidados médicos que salvam vidas", sublinha a ONG.
Leia Também: Médicos Sem Fronteiras resgata 26 migrantes na rota do Mediterrâneo