Numa entrevista à agência Lusa, Romirovski, diretor executivo da Scholars for Peace in the Middle East (SPME, com sede em Filadélfia), sublinhou que o Presidente russo, Vladimir Putin, a par do Irão, tem defendido o regime de Bashar al-Assad na guerra civil que perdura há 12 anos.
"O mundo árabe tem tido dificuldade em concordar historicamente sobre uma única questão ao longo dos anos durante as guerras israelo-árabes e o ódio em relação a Israel é a razão. E quando se trata da Síria, um [país] 'fantoche' dos russos, tem de se envolver também o Líbano, que é basicamente o 'parque de diversões' sírio, no sentido em que o Hezbollah é governado por Beirute, além das ligações ao Irão", explicou.
Para o também diretor-geral da Associação para o Estudo do Médio Oriente e África (ASMEA, na sigla inglesa), com sede em Washington, a reintegração da Síria na Liga Árabe -- decidida no início deste mês, permitindo que al-Assad participasse na cimeira da organização, que decorreu sexta-feira em Jidá, na Arábia Saudita -- "não traz nenhuma mudança na atitude quando se trata de procurar a paz".
"A questão do Hezbollah. Sabemos até onde as tropas sírias estão a ir [no conflito na fronteira entre a Síria e a Turquia]. Também tem de se questionar a quantidade de armamento que os russos estão a fornecer aos sírios", advertiu Romirovski, de ascendência judaica, natural de Filadélfia, no estado da Pensilvânia, e que tem dividido a sua vida entre os Estados Unidos e Israel,
"Por outro lado, há também os israelitas que estão continuamente em alerta. Sempre que há ameaças na fronteira norte têm de estar atentos", acrescentou Romirovski, dando como exemplo os recentemente descobertos túneis escavados pelo Hezbollah em direção a Israel, o que, com a ajuda dos sírios, está a tornar fronteira uma área "muito delicada e muito perigosa".
Para Romirovski, são todos esses fatores que estão a juntar-se que têm de ser tidos em conta e é aí que afirma não ver "nenhuma mudança na atitude quando se trata de paz".
"E os israelitas estão constantemente preocupados com a fronteira", acrescentou, frisando que, no seu entender, "há muitos agentes [Hezbollah, russos e iranianos] que estão a alimentar esse conflito".
"Os iranianos estão a fornecer os sírios. O Hezbollah fornece o Hamas, que é um movimento sunita. E assim há sunitas e xiitas com um ódio cada vez maior", acrescentou.
Segundo Romirovski, e face ao redesenho atualmente em curso na política externa dos países árabes no Médio Oriente, para Israel não se trata de saber se haverá uma nova guerra, mas "quando a próxima guerra acontecerá na fronteira norte".
"E é aí que a Síria desempenha um papel significativo nisso. O facto é que a Síria é mais uma vez considerada incorporada [no realinhamento árabe]. Não é novidade", defendeu.
"Eles podem não concordar em tudo, mas se tiverem de escolher entre e lidar com a paz ou com os judeus vão optar por manter os folhetins [dos conflitos]", sustentou Romirovski, que participou em Lisboa numa conferência sobre os acordos assinados em 2020 com o patrocínio do então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
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