"São pessoas desconhecidas e foram sepultadas", relatou um homem de 44 anos, sob anonimato, integrante do grupo de residentes da zona baixa do distrito de Muidumbe que fez a descoberta ao deslocar-se até à aldeia de Mandela.
"É uma aldeia que ainda precisa das forças de defesa e segurança porque há sinais de violência. Vimos algumas casas queimadas", descreveu outra fonte local.
Parte da população fugiu e está acampada noutras zonas (Nanhala, Chapa e Chudi) do vizinho distrito de Mueda, que desde o início do conflito tem acolhido deslocados por se apresentar seguro.
No entanto, a "falta de oportunidades de trabalho e escassez de apoio alimentar" faz com que "muita gente tenha desejo de voltar", acrescentou, mesmo sabendo que prevalecem ataques pontuais em zonas remotas.
Do lado sul, em Macomia, outro distrito também flagelado pela insurgência armada, a população anunciou hoje a descoberta de campas improvisadas no meio do mato, com os corpos de três pessoas que estavam desaparecidas desde o início de maio, entre as quais uma criança de 07 anos.
As vítimas faziam parte de um grupo da comunidade de Chitoio, no posto administrativo de Chai, que tinha saído para o mato em busca de alimentos, referiu fonte local.
Eram sete residentes e foram surpreendidos a meio do caminho por um grupo armado, mas só quatro conseguiram regressar à aldeia.
"Queremos sobreviver, mas nem sei como é que a gente fica", lamentou.
Após o sucedido, a milícia reforçou a presença e é recomendado que todos recolham a casa até às 17:00 (16:00 em Lisboa), hora do pôr-do-sol, porque "daí para a frente a aldeia fica sob controlo da força local".
"A força local [milícia] sempre trabalhou e, se não fosse ela, não estaríamos aqui. Mas há restrições de circulação, sobretudo na calada da noite", disse a mesma fonte.
Chitoio está perto do rio Messalo, fazendo fronteira com o distrito de Muidumbe.
As forças de defesa e segurança moçambicanas têm em curso naquela zona uma operação designada Vulcão IV que visa desmantelar esconderijos de rebeldes nos distritos de Muidumbe e Macomia.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com as Nações Unidas, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
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