OIM envia ajuda a afetados após destruição de barragem na Ucrânia
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) indicou hoje estar a encaminhar ajuda de emergência para responder às necessidades básicas da população afetada pela destruição da barragem de Kakhovka, na região ucraniana de Kherson.
© Zelenskyy Social Media Account / Handout/Anadolu Agency via Getty Images
Mundo Kakhovka
Num comunicado, a OIM precisou que, devido aos graves danos naquela infraestrutura vital e ao desastre ambiental iminente, "está a abastecer de água limpa as áreas que estão a acolher pessoas retiradas [da zona da central hidroelétrica] e a trabalhar com o Governo da Ucrânia para avaliar que tipo de apoio adicional será necessário nos próximos dias e semanas".
"Este ataque pôs milhares de vidas em risco, causou graves danos ambientais e colocou ainda maior pressão sobre os serviços de resposta, num país já a braços com as consequências humanitárias de mais de um ano de guerra", declarou o diretor-geral da OIM, António Vitorino.
Na segunda-feira à noite, o dique que formava a barragem de Kakhovka, no rio Dniepre, sofreu graves danos, fazendo com que enormes quantidades de água seguissem rio abaixo e inundassem parcialmente a cidade de Kherson, ainda a recuperar dos intensos combates do final de 2022.
Os habitantes das comunidades afetadas foram instados a abandonar a área, e as autoridades ucranianas indicaram que mais de 16.000 pessoas se encontram na "zona crítica", na margem ocidental do rio Dniepre, controlada por Kiev.
"As infraestruturas públicas nunca deveriam ser um alvo. No entanto, agora, civis inocentes estão não só a viver numa zona de cheias mortais como enfrentarão uma escassez de água potável e de abastecimento de energia essencial nas próximas semanas, à medida que a situação humanitária se agrava", acrescentou Vitorino.
No comunicado, a OIM sublinhou que, além da ameaça à vida dos residentes e dos danos ambientais, a barragem se situa perto de uma central nuclear e da linha da frente, "o que levanta preocupações adicionais de segurança".
O incidente deverá ainda afetar o fornecimento de água à península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014 e proclamada "República Autónoma da Crimeia", e a outras áreas da Ucrânia, bem como aos sistemas de refrigeração da central nuclear de Zaporijia, a maior da Europa.
Segundo a avaliação inicial da OIM -- a maior agência humanitária a operar na Ucrânia -, água potável e alimentos estão entre as necessidades prioritárias e, em coordenação com as autoridades locais, a organização "planeia expandir a ajuda hídrica e de saneamento, distribuir bens de emergência, apoiar centros de acolhimento e fornecer cuidados de saúde".
A OIM salientou que, "dado o efeito sobre o abastecimento de água e a probabilidade de inundações, as doenças transmitidas pela água representam uma séria ameaça" e que está "pronta para apoiar medidas de prevenção e controlo de infeções, por exemplo através da distribuição de 'kits' de tratamento da cólera".
"Apesar da destruição causada pela guerra e dos desafios colocados, devemos investir na recuperação e reconstrução da Ucrânia", sustentou António Vitorino, insistindo: "Ao mesmo tempo que respondemos às necessidades de emergência, devemos concentrar-nos no futuro pacífico da Ucrânia".
Também a organização Human Rights Watch (HRW) reagiu hoje à destruição da central hidroelétrica de Kakhovka, no sul da Ucrânia, condenando o facto de o seu bombardeamento pôr em causa vidas de civis e o ambiente, causando "inundações significativas".
"Estamos seriamente preocupados com a segurança de dezenas de milhares de pessoas afetadas pela destruição da barragem da Central Hidroelétrica de Kakhovka, na região ucraniana de Kherson, e com a extensa destruição ambiental que as inundações causarão", declarou o diretor da HRW para o ambiente e direitos humanos, Richard Pearshouse, num comunicado.
Por essa razão, defendeu que, "embora tanto a Rússia como a Ucrânia digam que estão a investigar a causa da destruição", ambas deveriam cooperar para "retirar os civis das áreas afetadas e fornecer cuidados médicos e outra assistência humanitária".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, a invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 468.º dia, 8.983 civis mortos e 15.442 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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