"Os países estão muito longe do cumprimento das promessas e compromissos climáticos. Vejo falta de ambição. Uma falta de confiança. Uma falta de apoio. Falta de cooperação. E uma abundância de problemas em torno de clareza e credibilidade. A agenda climática está a ser minada", disse Guterres numa conferência de imprensa, em Nova Iorque.
Num momento em que o mundo deveria estar a acelerar a ação climática, está, pelo contrário, a retroceder, advogou o líder da Organização das Nações Unidas (ONU).
"As políticas atuais estão a levar o mundo a um aumento de temperatura de 2,8 graus até ao final do século. Isso significa catástrofe. No entanto, a resposta coletiva continua lamentável. Estamos a caminhar para o desastre, de olhos bem abertos - com muitos dispostos a apostar tudo em pensamentos positivos, tecnologias não comprovadas e soluções mágicas", criticou.
"É hora de acordar e intensificar", apelou Guterres, que tem na agenda climática um dos principais focos do seu mandato.
De acordo com o ex-primeiro-ministro português, limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus celsius ainda é possível, mas exigirá que as emissões de carbono sejam reduzidas em 45% até 2030.
Exigindo ação dos Governos, Guterres apontou para os combustíveis fósseis, exortando os países a eliminá-los progressivamente, movendo-se para deixar o petróleo, o carvão e o gás e aumentarem maciçamente o investimento em energias renováveis.
O secretário-geral reconheceu que tem feito estes alertas com frequência, mas lamentou que os mesmos não venham produzindo efeito, apontando ainda responsabilidades às grandes empresas de combustíveis fósseis, instando-as a "desistir do tráfico de influências e das ameaças legais destinadas a impedir o progresso".
"O mundo precisa que a indústria aplique os seus enormes recursos para impulsionar, e não obstruir, a mudança global de combustíveis fósseis para renováveis.(...) No ano passado, a indústria de petróleo e gás obteve um lucro líquido recorde de quatro biliões de dólares (3,66 biliões de euros). No entanto, por cada dólar gasto em perfuração e exploração de petróleo e gás, apenas quatro centavos foram para energia limpa e captura de carbono... combinados", denunciou.
"Vender o futuro por trinta moedas de prata é imoral", insistiu Guterres, que acusa as empresas energéticas de não cumprirem sequer os objetivos mínimos que se impuseram.
António Guterres exige também mais medidas às instituições financeiras, às quais pede planos públicos detalhados para passarem os seus investimentos dos combustíveis fósseis para as energias 'limpas'.
Esta nova chamada de atenção de Guterres surge na sequência de uma série de encontros que manteve com líderes da sociedade civil em preparação para a próxima cimeira do clima (COP28), que será realizada no final do ano no Dubai.
[Notícia atualizada às 19h17]
Leia Também: Sánchez considera "má notícia" para toda Europa avanço da extrema-direita