O diretor de Hollywood e realizador do filme ‘Titanic’, James Cameron, lamentou, na quinta-feira, não ter soado o alarme sobre os defeitos estruturais do submarino Titan mais cedo, comparando a tragédia do submersível da OceanGate ao naufrágio do navio britânico, que ocorreu em 1912.
“Estou impressionado com a semelhança ao próprio desastre do Titanic, na qual o capitão foi repetidamente avisado sobre o gelo à frente do navio e, ainda assim, navegou a toda velocidade contra um campo de gelo numa noite sem luar", disse Cameron, em declarações à ABC News, pouco depois de a Guarda Costeira dos EUA ter anunciado a implosão do submersível que estava desaparecido desde domingo, e que matou o empresário e explorador Hamish Harding, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e o filho, Suleman Dawood, o CEO da OceanGate, Stockton Rush, e ainda o especialista no Titanic Paul-Henri Nargeolet.
E sublinhou: "Muitas pessoas morreram como consequência, e uma tragédia muito semelhante ocorreu exatamente no mesmo local onde os avisos foram ignorados."
Cameron, que desenhou submarinos capazes de atingir uma profundidade três vezes superior à do Titan, apontou ainda que a construção do submersível com recurso a fibra de carbono era "fundamentalmente defeituosa", sendo, por isso, uma “trapalhada”. Nessa linha, o realizador mostrou-se surpreendido que o incidente tenha ocorrido, dada a tecnologia associada à exploração do fundo do oceano disponível atualmente.
“Pensei que era uma ideia terrível. Lamento não ter soado o alarme, mas assumi que alguém era mais inteligente do que eu, porque nunca experimentei com esta tecnologia, mas soou-me mal desde o início”, disse, em declarações à agência Reuters.
Na verdade, e apesar das críticas, Stockton Rush defendeu a decisão de usar aquele material na sua embarcação, uma vez que acreditava que a fibra de carbono teria uma relação força-flutuabilidade melhor do que o titânio. Contudo, perante a tragédia, o diretor do ‘Titanic’ equacionou que os críticos estavam corretos ao denunciar que um casco de fibra de carbono e titânio permitiria a entrada microscópica de água, levando a uma falha progressiva do veículo ao longo do tempo.
"Esta é uma arte madura, e muitas pessoas na comunidade ficaram muito preocupadas com este submarino", recordou Cameron, indicando que “vários dos principais ‘players’ da comunidade de engenharia de submersão profunda até escreveram cartas para a empresa, dizendo que o que estavam a fazer era muito experimental para transportar passageiros e que precisava de ser certificado".
Sublinhe-se que, em 2018, um funcionário da OceanGate foi demitido por ter alertado para preocupações com o controlo de qualidade do Titan, tendo sido acusado pela OceanGate de quebra de contrato, fraude e apropriação indevida de segredos comerciais. O homem recusou as acusações e processou a empresa, num processo que foi resolvido fora do tribunal.
Já em 2021, a OceanGate assegurou que o submersível “foi construído e projetado em consulta com engenheiros e fabricantes especializados”, além de incluir “vários sistemas de segurança”.
Ainda assim, a Marinha dos Estados Unidos revelou, na quinta-feira, que os seus sistemas detetaram sons “consistentes com uma implosão” pouco depois de o submarino ter perdido contacto, no domingo. Cameron revelou que, quando teve conhecimento do sucedido, soube que o Titan tinha implodido logo quando perdeu a comunicação, uma hora e 45 minutos após o início da expedição.
“Celebramos a inovação, certo? Mas não deveríamos usar um veículo experimental para passageiros que pagam e não são engenheiros oceânicos”, acusou.
E rematou: “Aqui estamos de novo. E no mesmo local. Agora, há um naufrágio ao lado do outro pelo mesmo motivo.”
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