Ruandeses são "prisioneiros no seu próprio país"

Paul Rusesabagina, um dos maiores críticos do Presidente do Ruanda, afirmou hoje num vídeo publicado no YouTube que os ruandeses são "prisioneiros no seu próprio país" e acusou o regime de Paul Kagamé de "autoritário".

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Lusa
01/07/2023 14:00 ‧ 01/07/2023 por Lusa

Mundo

Paul Rusesabagina

Na primeira mensagem pública desde que foi libertado, em 25 de março, após mais de 900 dias numa prisão ruandesa, o herói do filme "Hotel Ruanda", conhecido internacionalmente por ter salvado centenas de pessoas durante o genocídio dos tutsis em 1994, agradeceu aos Estados Unidos por terem organizado a sua libertação surpresa do que descreveu como "inferno".

Rusesabagina explicou que a mensagem no YouTube coincide com a proclamação da independência do Ruanda, em 01 de julho de 1962.

"Infelizmente, hoje, 61 anos depois, os ruandeses ainda não são livres. Os ruandeses são prisioneiros no seu próprio país", afirmou o opositor ruandês a partir da sua residência em San Antonio, Texas (Estados Unidos).

"[O Governo ruandês] é autoritário, não concede direitos aos seus cidadãos e não tolera a dissidência", acrescentou, acusando o regime de Kagamé de, desde o lançamento do filme em 2014, o ter tentado silenciar "através da política, da vigilância e da violência".

"Eles raptam, prendem à força, torturam, matam e organizam julgamentos forjados para todos os que discordam deles. Tive a sorte de não ter sido morto como tantos outros. O meu julgamento fez manchetes em todo o mundo, mas não sou o único entre milhares de pessoas que passam por esta situação todos os anos", prosseguiu.

Rusesabagina, 69 anos, ficou conhecido pelo filme "Hotel Ruanda", que conta como este hutu moderado, que geria o Hotel das Mil Colinas, na capital do Ruanda, salvou cerca de 1.200 pessoas durante o genocídio dos tutsis em 1994. 

Rusesabagina, de nacionalidade belga e residente permanente nos Estados Unidos, foi libertado em março, após 939 dias de detenção, depois de ter visto a sua pena de 25 anos de prisão por "terrorismo" comutada por decreto presidencial.

A condenação, em setembro de 2021, suscitou a condenação internacional. Os ativistas dos direitos humanos acusam o Ruanda -- governado com mão de ferro por Kagamé desde o fim do genocídio (morreram cerca de 800.000 pessoas) -- de reprimir a liberdade de expressão e a oposição.

Rusesabagina vivia exilado nos Estados Unidos e na Bélgica desde 1996, antes de ser detido em Kigali, em 2020, em circunstâncias obscuras, ao sair de um avião que julgava ter como destino o Burundi.

O opositor foi julgado entre fevereiro e julho de 2021, acusado de "terrorismo" por atentados perpetrados pela Frente de Libertação Nacional (FLN), uma organização classificada como terrorista por Kigali, que fizeram nove mortos em 2018 e 2019.

Os apoiantes do crítico de Kagamé consideram que o julgamento foi uma farsa marcada por irregularidades.

Rusesabagina admitiu ter participado na fundação, em 2017, do Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD), do qual a FLN é considerada o "braço armado", mas sempre negou qualquer envolvimento nos ataques.

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