Haiti. Grupo entra em hospital e leva vítima de tiroteio durante operação

Depois do assassinato do presidente, o Haiti, que nunca recuperou do destrutivo terramoto de 2010, está mergulhado numa gravíssima crise socioeconómica, com a capital completamente tomada por uma luta de gangues.

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© RICARDO ARDUENGO/AFP via Getty Images

Notícias ao Minuto
09/07/2023 10:55 ‧ 09/07/2023 por Notícias ao Minuto

Mundo

Haiti

A violência armada em Port-au-Prince, a capital do Haiti, continua a limitar a atividade dos hospitais da região e das organizações não-governamentais (ONG) e, na quinta-feira à noite, um grupo de quase 20 homens entrou nas instalações dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) para retirar à força uma vítima de tiroteio.

Em comunicado, os MSF explicaram que a vítima chegou ao hospital no passado dia 6 de julho, precisando de uma operação de emergência devido à gravidade dos ferimentos. Pouco depois, dois homens fingiram lesões e aproximaram-se do portão de metal, pedindo para entrar.

As portas abriram e, nesse momento, cerca de 20 homens entraram no espaço da organização e exigiram que o staff lhes mostrasse onde estava a vítima. Depois de ameaçarem de morte os médicos e enfermeiros que estavam a operar a pessoa, que não foi identificada, os homens levaram a vítima.

Nenhum membro do staff ficou ferido durante o raide. Os MSF anunciaram que o caso levou à suspensão dos tratamentos a vítimas de traumatismos e queimaduras.

O hospital da organização humanitária, na zona de Tabarre, é a maior infraestrutura de saúde no Haiti e a ABC News, que fez uma reportagem recentemente no local, avisa que o ataque e a suspensão de serviços deverá trazer um impacto muito grande ao sistema de saúde altamente fragilizado do país.

O hospital em Tabarre era uma das últimas infraestruturas de saúde capaz de lidar com as vítimas dos ataques violentos na região e, acrescenta a emissora norte-americana, é o único hospital com uma unidade para vítimas de queimaduras.

As recorrentes batalhas entre gangues e grupos armados violentos passaram a dominar toda a vida socioeconómica no Haiti, especialmente na capital, e as autoridades governamentais têm pedido ajuda à Organização das Nações Unidas (ONU) e a outros governos perante a total incapacidade em lidar com a violência.

Esta onda de violência, que já era grave após o terramoto de 2010 e a enorme crise humanitária que esse fenómeno causou, intensificou-se ainda mais com o assassinato do presidente Jovenel Moïse, há dois anos, o que precipitou uma luta pelo poder.

Neste momento, há mais vítimas de tiroteios a dar entrada nas instalações médicos do Haiti do que vítimas de acidentes de viação.

"Há tanto desprezo pela vida humana entre os grupos em conflito, tanta violência em Port-au-Prince, que até os vulneráveis, doentes e feridos não são poupados. Como é que nós, profissionais de saúde, podemos continuar a dar cuidados de saúde neste ambiente?", questionou Mahaman Bachard Iro, que dirige os programas dos Médicos Sem Fronteiras no Haiti.

Esta não é a primeira vez que os MSF são forçados a encerrar um hospital devido à violência, e a suspensão de serviços no país deixou o sistema de saúde à beira do colapso. Em abril de 2022, a ONG foi forçada a encerrar temporariamente um hospital no bairro de Drouillard, em Port-au-Prince; e em junho de 2021, fechou um centro de emergência em Martissant. Já este ano, em janeiro de 2023, foi suspenso o apoio ao hospital Raoul Pierre Louis por questões de segurança.

Leia Também: Força internacional no Haiti para apoiar polícia? Guterres reforça apelo

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