O presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky, assegurou, esta terça-feira, que o país está a desenvolver "opções de ação" para preservar "o papel global da Ucrânia como garante da segurança alimentar" depois de a Rússia suspender a sua participação na iniciativa que permite a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro. O chefe de Estado ucraniano acusou ainda Moscovo de querer "provocar" crises políticas e migratórias.
No seu habitual discurso noturno, Zelensky adiantou que realizou uma reunião sobre a iniciativa e que "as principais questões" são a proteção dos portos ucranianos e a "continuação das exportações de alimentos por via marítima. "Esta é uma questão estrategicamente importante, e não apenas para o nosso país", frisou.
O chefe de Estado ucraniano lembrou que, no ano passado, graças ao acordo dos cereais foi possível "evitar uma crise de preços no mercado global de alimentos".
"Um pico de preços teria sido inevitavelmente seguido por crises políticas e migratórias, particularmente em países africanos e asiáticos. Obviamente, a liderança russa está agora a tentar provocar essas crises", defendeu.
"Sem as nossas exportações, o défice no mercado global será, infelizmente, muito tangível. E não apenas para os países mais pobres. Diferentes países sentirão isso: da Líbia e Egito ao Bangladesh e China", acrescentou.
Desta forma, o chefe de Estado ucraniano assegurou que o país está a "trabalhar" com os parceiros "para evitar" que isso aconteça.
"Da nossa parte, estamos a desenvolver opções de ação e acordos para preservar o papel global da Ucrânia como garante da segurança alimentar, o nosso acesso marítimo ao mercado global e empregos para os ucranianos nos portos e na indústria agrícola. Estamos a lutar pela segurança global e pelos nossos agricultores ucranianos", rematou.
Recorde-se que a Rússia declarou no início deste mês que não via motivo para estender o acordo e decidiu suspendê-lo sob a alegação de que as sanções que sofre devido à agressão contra a Ucrânia impedem o cumprimento da parte do pacto que também deve garantir as exportações de alimentos russos e fertilizantes.
O acordo expirou às 00h00 de hoje (22h00 em Lisboa), após o final do prazo estabelecido durante a sua última renovação por dois meses em maio.
A suspensão do acordo por Moscovo mereceu comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.
Reino Unido, França e Alemanha, entre outros aliados europeus, também condenaram a suspensão russa dos acordos do Mar Negro, tal como primeiro-ministro português, António Costa, que alertou que a suspensão do acordo de cereais por parte da Rússia é uma "muito má notícia" que pode levar a uma "crise alimentar à escala global".
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