"O Brasil vive um momento excecional na sua relação com Portugal", disse o chefe de Estado brasileiro, em entrevista à imprensa internacional em Bruxelas e respondendo a uma questão da agência Lusa, no final de ter participado numa cimeira de dois dias da União Europeia com a América Latina e Caraíbas.
Lula da Silva ironizou: "Se em 1500 Portugal descobriu o Brasil, em 2023 o Brasil descobriu Portugal, ou seja, pela quantidade de brasileiros que Portugal tem hoje, daqui a pouco será em maior número do que a população portuguesa".
Questionado sobre conversas tidas com o primeiro-ministro português durante a cimeira europeia, que decorreu na segunda e terça-feira em Bruxelas, o presidente brasileiro indicou que não conversou "sobre a guerra com António Costa".
"Aliás, eu não tive [uma reunião] bilateral com António Costa. Eu tinha tentado marcar uma conversa com António Costa para a conversarmos sobre outros assuntos e aprimorar a nossa relação, mas ele teve de sair mais cedo, então não foi possível", adiantou.
Aquela que foi a primeira cimeira entre UE e Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em oito anos - e que juntou em Bruxelas mais de 50 líderes de ambos os blocos regionais - foi marcada pelos diferentes pontos de vista sobre a guerra da Ucrânia, nomeadamente da Venezuela, Cuba e Nicarágua, sendo que foi este último país quase bloqueou a declaração final, que obteve consenso à última hora.
Nessa declaração final, os líderes condenaram então, com exceção da Nicarágua, a guerra da Ucrânia sem mencionar a Rússia, após vários dias de divergências sobre a declaração final.
Falando após o encontro, o primeiro-ministro português, António Costa, destacou "a consensualização" na cimeira para manifestar preocupação sobre a guerra da Ucrânia, apesar desta exceção da Nicarágua.
Esta que foi a terceira cimeira da UE com a CELAC, oito anos depois da reunião de 2015, focou-se no reforço da parceria entre as duas regiões para as preparar para novos desafios, nomeadamente causados pela guerra da Ucrânia.
Falando precisamente sobre o conflito, Lula da Silva, referiu hoje à imprensa internacional que "não tem de concordar" com aquele que classificou como "o nervosismo" dos países europeus, mais próximos da Ucrânia.
"Exatamente por estarmos distantes, podemos ter a tranquilidade de não nos encontrarmos no clima em que estão os europeus", ressalvou, defendendo que "se construa um grupo de países capazes de, no momento certo, convencer a Rússia e a Ucrânia de que a paz é o melhor caminho".
Até porque, de acordo com Lula da Silva, "o mundo começa a cansar-se" do conflito.
"Esta reunião [a cimeira UE-CEÇAC] foi muito importante e a discussão sobre a Ucrânia aconteceu no momento certo e no tempo certo", concluiu.
[Notícia atualizada às 10h45]
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