Em declarações em Bruxelas, onde se reuniu com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, o dirigente sérvio atribuiu a atual crise e o aumento das tensões no Kosovo à "irresponsabilidade" das autoridades de Pristina e insistiu que durante os recentes tumultos diversos sérvios ficaram feridos.
"Esta visita é muito importante para nós porque se está cada vez mais a converter numa questão de segurança, e não apenas política. Houve feridos graves, pessoas sérvias feridas por balas, e na realidade não existe qualquer investigação em curso sobre estes casos, algo que nos preocupa muito", assinalou.
Nesse sentido, elogiou a cooperação de Belgrado com a missão da NATO no Kosovo (Kfor), mas solicitou novas medidas para proteger a minoria sérvia no Kosovo.
"Se analisarmos a resolução da ONU, a NATO é responsável pela segurança no Kosovo, e pedimos que proporcione segurança e proteção aos sérvios, porque nos últimos seis meses pelo menos seis sérvios foram atingidos a tiro pelos albaneses, principalmente pelas suas forças de segurança", assinalou.
Por sua vez, Stoltenberg emitiu uma mensagem de apaziguamento ao sublinhar a importância de redução das tensões. "Pedimos a todas as partes que as reduzam e que se abstenham de ações e retórica de escalada. Consideramos firmemente que o único caminho a seguir é o diálogo facilitado pela União Europeia [UE]", assegurou.
Nesse sentido, sublinhou o reforço da Kfor após os confrontos entre manifestantes sérvios e tropas da NATO após presidentes de câmara de origem albanesa em municípios de maioria sérvia terem sido eleitos sem qualquer representatividade num escrutínio que diversos responsáveis internacionais exigem que seja repetido.
"A Sérvia é um parceiro da NATO desde há muito tempo, confiamos que participem neste diálogo de forma construtiva", insistiu Stoltenberg, que insistiu no prosseguimento do diálogo mediado por Bruxelas sobre a "normalização das relações" entre Belgrado e Pristina.
A Kfor, presente no Kosovo desde a guerra de 1998-99, permanece a principal instituição responsável pela segurança, com 4.500 soldados de 27 países.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo -- a sua antiga província do sul e considerada o berço da sua nacionalidade e religião -- proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Os dois países negoceiam a normalização das relações assente num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, com o seu roteiro acordado por Belgrado e Pristina em março passado, mas que o atual aumento da tensão se arrisca a comprometer em definitivo.
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