"Só conseguimos chegar aqui depois de muita luta", disse Raoni, principal líder da etnia Kayapó e conhecido mundialmente pela sua luta pelos direitos indígenas, proteção ambiental e preservação da Amazónia.
Raoni, que lidera uma campanha das Nações Unidas pela preservação da Amazónia que o levou a encontrar-se com vários líderes mundiais e que no dia 01 de janeiro foi convidado especial na tomada de posse de Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente do Brasil, recordou, em particular, a luta dos Kayapó pela reserva no Parque do Xingú, no coração da Amazónia.
"Enfrentei o cano da espingarda no meu peito", disse, recordando a violência e as ameaças na luta pela demarcação da Terra Indígena Caopoto Jarina, num discurso que proferiu em Piaraçu, uma das aldeias da reserva Kayapó no Parque do Xingú, no estado amazónico de Mato Grosso.
O evento, denominado "O Chamado do Cacique Raoni: Grande Encontro de Líderes, Guardiões da Mãe Terra", foi inaugurado hoje, com a participação das ministras brasileiras dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e do Ambiente, Marina Silva.
Várias das lideranças indígenas mais emblemáticas do Brasil, como Ailton Krenak, Bemoro Metuktire, Puiu Txucarramãe, Yabuti, Bepdjai Metikure e Koti Metikure, também relembraram as lutas dos seus povos pela terra.
De acordo com o convite feito a representantes de todos os povos indígenas do Brasil e a diferentes autoridades, incluindo Lula da Silva, o objetivo do encontro é reforçar a articulação política do movimento indígena, sobretudo no que diz respeito à defesa dos territórios e da floresta amazónica.
Um dos principais assuntos a serem discutidos é o processo que está nas mãos do Supremo Tribunal Federal, que pode impedir a delimitação de novas terras indígenas no Brasil.
Os autores da ação argumentam que os povos indígenas só podem reivindicar as terras que efetivamente ocupavam em 1988, data da Constituição brasileira.
Se a tese do chamado "Marco Temporal" for aceite, algumas etnias que tentam recuperar terras das quais foram expulsas e não ocupavam em 1988 podem perdê-las para sempre.
Segundo Raoni, o direito à terra é uma questão vital não só para a sobrevivência dos povos indígenas, mas também para a preservação da Amazónia e para travar as mudanças climáticas.
"Se não cuidarmos de nossas terras e florestas e deixarmos que desmatem tudo, todos sofreremos com as mudanças climáticas", alertou.
"Apelo aos líderes e às autoridades para que assinem juntos um compromisso em defesa da terra", acrescentou o cacique de 93 anos, que tem sofrido graves problemas de saúde nos últimos meses.
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