Médio Oriente receia subida de preços por suspensão do acordo dos cereais
Os países do Médio Oriente, muitos deles a debaterem-se com fortes crises, receiam um aumento dos preços dos cereais, base da alimentação na região, após a suspensão da Iniciativa do Mar Negro, relatou hoje a agência Associated Press (AP).
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Mundo Guerra na Ucrânia
Em meados de julho, a Rússia retirou-se da iniciativa que também abrangia a Ucrânia, um acordo mediado pela ONU e pela Turquia que permitia a exportação de cereais pelo Mar Negro a partir de portos ucranianos.
De acordo com a AP, este acordo ajudou a estabilizar os preços dos alimentos que tinham disparado no ano passado após a invasão russa da Ucrânia, dois países que são grandes fornecedores de trigo, cevada, óleo de girassol e outros alimentos para as chamadas nações em desenvolvimento.
O Egito, o maior importador de trigo do mundo, e outros países de baixo rendimento do Médio Oriente, como o Líbano ou o Paquistão, já manifestaram a sua preocupação em relação às consequências da suspensão do acordo.
Outros países conseguiram diversificar as suas fontes de fornecimento de trigo, o principal ingrediente do pão - que é um alimento básico em muitas nações do Médio Oriente -, e não esperam escassez.
A suspensão do acordo dos cereais está a criar um clima de incerteza sobre os aumentos de preços destes alimentos, um dos principais impulsionadores da fome no mundo.
Apesar da volatilidade dos preços, os custos estão mais baixos em comparação ao período anterior da invasão russa (iniciada em fevereiro de 2022) e há produção suficiente para responder à procura mundial, disse Joseph Glauber, investigador do International Food Policy Research Institute, citado pela AP.
Entretanto, para os países de baixo rendimento como o Iémen, devastado pela guerra, e o Líbano, que são grandes importadores de trigo, encontrar fornecedores mais distantes aumentará os custos, admitiu Glauber.
Além disso, as moedas destes países do Médio Oriente enfraqueceram em relação ao dólar norte-americano, que é usado para comprar os cereais nos mercados mundiais.
A desvalorização da moeda pressiona os governos, que terão de pagar mais para manter os subsídios do pão no mesmo nível e evitar o aumento dos custos para as famílias, segundo Glauber.
Muitos destes países também estão a ver as suas reservas de moeda estrangeira diminuírem e isto poderá colocar os países do Médio Oriente e de outras regiões geográficas numa situação financeira muito precária.
Na semana passada, o ministro do Abastecimento egípcio, Ali Moselhi, disse que o Egito diversificou as suas fontes de trigo importado e que o atual 'stock' tem capacidade de cobrir as necessidades do país por um período de cinco meses.
A lutar contra uma crise económica que levou mais pessoas para a pobreza, o Egito teme que o aumento dos preços dos alimentos possa criar ainda mais problemas para as famílias, empresas e para os resultados macroeconómicos do país.
No Líbano, a suspensão do acordo dos cereais pode ser um obstáculo adicional para este país que enfrenta uma grave crise económica, social e política, já que depende da Ucrânia em pelo menos 90% das suas necessidades de trigo.
O ministro interino da Economia libanês, Amin Salam, disse que qualquer impacto negativo nos preços do trigo após a suspensão do acordo do Mar Negro irá "certamente" afetar os preços.
Apesar das inundações sem precedentes registadas no país no ano passado, o Paquistão conseguiu ter uma colheita abundante de cereais.
No entanto, o Governo paquistanês pede o restabelecimento do acordo dos cereais para garantir a segurança alimentar global e evitar o aumento dos preços.
O Paquistão, cuja economia em dificuldades está a receber verbas do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi duramente atingido quando os preços dos alimentos dispararam após a invasão russa.
"O conflito na Ucrânia também trouxe dificuldades para os países em desenvolvimento e do sul global, principalmente em termos de escassez de combustível, alimentos e fertilizantes. O Paquistão não é exceção", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês, Bilawal Bhutto Zardari.
Numa conversa telefónica hoje realizada, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, que o restabelecimento do acordo dos cereais é necessário, porque o encerramento a longo prazo dos portos ucranianos "não beneficia ninguém".
E frisou que os países de baixo rendimento "vão sofrer muito" caso esta situação perdure.
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