Primeiros requerentes de asilo no Reino Unido instalam-se em polémica barcaça
Requerentes de asilo no Reino Unido foram hoje alojados a bordo de uma barcaça atracada no sudoeste de Inglaterra, um projeto muito polémico que se tornou um símbolo do combate à imigração protagonizado pelo Governo britânico.
© Dan Kitwood/Getty Images
Mundo Migrações
O primeiro grupo de migrantes embarcou hoje na "Bibby Stockholm", uma enorme barcaça de 93 metros de comprimento e 27 de largura, atracada no porto de Portland, no sudoeste do Reino Unido, e destinada a acomodar temporariamente até 500 migrantes.
Os primeiros deles deviam ter chegado já na semana passada, antes de um adiamento de última hora, mais um de sucessivos reveses enfrentados pelo Governo conservador na sua política migratória.
Enviar requerentes de asilo para barcaças atracadas é uma das mais peculiares ideias apresentadas para poupar dinheiro no acolhimento desses migrantes, dissuadindo ao mesmo tempo potenciais candidatos a asilo.
A questão gerou controvérsia e desencadeou a ira dos moradores locais, temendo alguns deles pela sua segurança, ao passo que outros condenam aquilo a que chamam uma "prisão flutuante".
As autoridades rejeitam essa designação e asseguram que os migrantes poderão entrar e sair quando bem entenderem.
O Governo conservador, em dificuldades nas sondagens a um ano das legislativas, reforçou a sua retórica anti-imigração e promete, em vão por enquanto, pôr fim às travessias ilegais do canal da Mancha.
Uma nova lei que entrou em vigor em julho e foi até condenada na ONU proíbe agora os migrantes que tenham efetuado essa perigosa travessia -- foram mais de 45.000 em 2022 e mais de 15.000 desde o início de 2023 -- de pedirem asilo no Reino Unido.
O sistema de asilo não está a conseguir dar vazão às necessidades, havendo mais de 130.000 pedidos de asilo ainda à espera de serem avaliados, a maioria dos quais há mais de seis meses, segundo os mais recentes números oficiais.
Londres quer assim reduzir a fatura do alojamento em hotéis dos requerentes de asilo, que ascende a 2,3 mil milhões de libras (2,6 mil milhões de euros) por ano, utilizando instalações como bases militares desativadas, barcaças atracadas ou mesmo tendas compradas para o verão.
O porto de Portland é o único do país que aceitou atracar a barcaça. Outros planos semelhantes tiveram de ser abandonados por falta de portos de abrigo.
A embarcação estará operacional durante pelo menos 18 meses. Segundo o executivo britânico liderado pelo primeiro-ministro Rishi Sunak, proporcionará "alojamento básico" a "homens adultos solteiros enquanto são processados os seus pedidos de asilo" e terá serviço de cuidados médicos, refeições e segurança durante as 24 horas do dia e os sete dias da semana.
Outra medida anunciada pelo Governo britânico foi um acordo com redes sociais e outras plataformas digitais que operam no país para bloquear "anúncios de redes de tráfico de pessoas".
Este acordo, alcançado de forma voluntária com redes sociais como X (antigo Twitter) e Facebook, levará estas empresas a trabalhar e a colaborar com a Agência Nacional do Crime (NCA, na sigla em inglês), noticiou a estação de televisão pública BBC.
Segundo o primeiro-ministro britânico, para "travar a chegada destas embarcações (com imigrantes ilegais), é necessário mudar o modelo de negócio dos traficantes de pessoas no seu local de origem".
"Este é um novo compromisso com as empresas tecnológicas para redobrar os esforços e lutar contra estes criminosos, trabalhar em conjunto para acabar com este tráfico cruel", sublinhou Rishi Sunak.
Por seu turno, a ministra do Interior, Suella Braverman, indicou que tal permitirá "melhorar a cooperação entre a Agência Nacional do Crime e as redes sociais para garantir que o conteúdo publicado não promove as travessias ilegais e perigosas do canal da Mancha".
"As pessoas perderam a fé no Governo no que diz respeito ao sistema de asilo, e este último anúncio faz com que isso mude um pouco", sustentou a ministra.
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