Destruição dos fogos no Havai agravada por mistura perigosa de fatores
Uma mistura perigosa de condições contribuiu para tornar o nível de destruição causada pelos fogos no Estado do Havai particularmente elevado, como ventos fortes, humidade baixa e vegetação seca.
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Mundo Clima
Os cientistas também apontam o contributo das alterações climáticas para o aumento da probabilidade de ocorrência de eventos meteorológicos, como o que está a decorrer na ilha de Maui, onde já morreram dezenas de pessoas e uma cidade histórica foi devastada.
"Está a conduzir a estas combinações imprevisíveis ou inesperadas a que estamos a assistir agora e a alimentar este fogo extremo", disse Kelsey Copes-Gerbitz, investigadora de pós-doutoramento na Faculdade de Silvicultura da Universidade de Colúmbia Britânica.
"O que estes (...) catastróficos incêndios estão a revelar é que ninguém está imune ao problema", acentuou.
Segundo meteorologistas, diferenças elevadas na pressão atmosférica estão a causar ventos fortes, de ocorrência rara, que alimentam as chamas destruidoras.
O clima do Havai conhece estes ventos. Resultam do movimento do ar do sistema de altas pressões a norte do Havai -- conhecido como o Alto do Pacífico Norte -- para a área de baixas pressões no Equador, a sul do Estado.
Mas o furacão Dora, que passou a sul das ilhas esta semana, está a exacerbar o sistema de baixa pressão e a aumentar a diferença na pressão atmosférica, o que leva à criação de "raros ventos fortes", disse Genki Kino, meteorologista do Serviço Meteorológico dos EUA, colocado em Honolulu.
O climatologista do Estado do Havai Pao-Shin Chu disse que foi apanhado desprevenido pelo impacto que o Dora está a ter a uma distância de 800 quilómetros.
"O furacão Dora está muito distante do Havai, mas temos aqui estes fogos. Isto é algo que não estávamos à espera", disse.
Ventos fortes, combinados com humidade baixa e uma abundante vegetação seca que arde facilmente, podem aumentar o perigo dos incêndios, mesmo em uma ilha tropical como a Maui.
"Quando estas condições se verificam todas ao mesmo tempo é o que Serviço Meteorológico designa por 'condições de alerta vermelho'", disse Erica Fleishman, diretora do Instituto de Investigação em Alterações Climáticas da Universidade estadual do Oregon.
Fleishman adiantou que "as alterações climáticas em muitas partes do mundo estão a aumentar a secura da vegetação, em grande parte porque a temperatura está mais quente".
Adiantou ainda que "mesmo que se tenha a mesma quantidade de precipitação, se existirem temperaturas mais altas, as coisas secam mais depressa".
Já Clay Trauernicht, cientista do fogo na Universidade do Havai, afirmou que a época das chuvas pode levar espécies invasoras, como a relva da Guiné, a crescerem até 15 centímetros por dia e atingirem uma altura de três metros. Quando seca, representa uma autêntica caixa de pólvora pronta para arder.
"Estas relvas acumulam combustível muito rapidamente", disse Trauernicht, que acrescentou: "Em condições mais quentes e secas, com chuvas variáveis, apenas exacerbam o problema".
As alterações climáticas não apenas aumentam o riso de incêndio, ao fazerem subir a temperatura, mas também por aumentarem a força dos furacões. Depois, estes furacões podem alimentar ventos fortes, como o que está por trás dos fogos em Maui.
"Há uma tendência crescente na intensidade dos furacões a nível mundial, em parte porque o ar mais quente tem mais água", disse Fleishman. "Além disso, o nível do mar está a subir a nível mundial, pelo que se tende a ter inundações mais severas resultantes de um furacão quando chega a terra".
Apesar de não se poder dizer que as alterações climáticas causam eventos singulares, os cientistas realçam que o impacto que os extremos climáticos estão a ter nas comunidades é inegável.
"Estes tipos de desastres relacionados com as alterações climáticas estão realmente além das coisas com as quais estamos habituados a lidar", admitiu Copes-Gerbitz. "Este género de desafios, múltiplos e inter-relacionados, pode realmente conduzir a um desastre", concluiu.
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