Um McDonnell Douglas DC9 da companhia Itavia caiu no Mar Tirreno entre Ponza e Ustica (Sicília) na noite de 27 de junho de 1980, quando fazia a rota Bolonha-Palermo, provocando a morte dos 77 passageiros e quatro tripulantes a bordo.
O acidente, conhecido como o desastre de Ustica, tem sido objeto de numerosas investigações, ações judiciais e acusações, incluindo alegações de conspiração, segundo a agência italiana ANSA.
A teoria avançada por vários especialistas italianos é que a tragédia ocorreu quando um ou dois aviões líbios perseguidos por caças norte-americanos e franceses seguiram a rota do avião civil para escapar aos radares.
Num tal "cenário de guerra", o DC9 foi abatido por engano ou colidiu com um dos MiG que se encontravam na zona, de acordo com a agência francesa AFP.
Agora, numa entrevista ao jornal La Repubblica, Amato, 85 anos, retomou esta teoria, afirmando que a França, com a ajuda dos Estados Unidos, tentou matar Kadhafi, pensando que este se encontrava num dos MiG.
Segundo disse, o míssil tinha como alvo um caça MiG em que deveria viajar Kaddafi, que acabou por ser assassinado em 2011, durante a revolução que o depôs após mais de 30 anos no poder na Líbia.
"O plano era simular um exercício da NATO, com muitos aviões em ação, no decurso do qual seria disparado um míssil contra o líder líbio", disse Amato, citado pela agência espanhola EFE.
Amato disse que o exercício "era uma montagem que permitiria fazer passar o ataque como um 'acidente não intencional'".
De acordo com o também antigo presidente do Tribunal Constitucional, Kaddafi acabou por não voar no MiG "porque foi avisado" por Bettino Craxi (1934-2000), então líder do Partido Socialista Italiano e considerado próximo do dirigente líbio.
"A hipótese mais credível é que o míssil tenha sido lançado por um caça francês a partir de um porta-aviões ao largo da costa sul da Córsega ou da base militar de Solenzara, que estava muito ocupada nessa noite", afirmou.
Em 2003, o coronel Kadhafi acusou os Estados Unidos de o terem tentado matar.
Paris e Washington sempre negaram qualquer envolvimento dos seus aviões na tragédia de Ustica.
Daria Bonfietti, presidente da associação de familiares das vítimas da catástrofe, congratulou-se com as declarações de Amato.
"É uma reconstrução correta de tudo o que está nos documentos [relativos ao caso], que conhecemos há anos", disse a antiga senadora, cujo irmão, Alberto Bonfietti, morreu no acidente.
Amato, um prestigiado político e jurista cujo nome foi considerado para Presidente da República, lamentou que a França e a NATO nunca tenham esclarecido o que aconteceu em 1980.
"Após 40 anos, as vítimas inocentes de Ustica não receberam justiça. Porquê continuar a esconder a verdade? Chegou o momento de esclarecer um terrível segredo de Estado", afirmou.
Amato apelou ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que disse ser estranho à tragédia, para "eliminar a vergonha que pesa sobre a França".
"E só o pode fazer de duas maneiras: provando que esta tese é infundada ou, uma vez provada, fazendo um pedido de desculpas profundo a Itália e às famílias das vítimas em nome do seu governo", afirmou.
"O silêncio prolongado não me parece ser uma solução", acrescentou Amato.
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