Os incidentes neste país de maioria albanesa muçulmana prolongaram-se por várias semanas e eclodiram no norte, onde se concentra a minoria sérvia, no decurso de protestos que provocaram dezenas de feridos, incluindo entre as forças multinacionais.
"A situação está calma, mas a situação pode deteriorar-se muito rapidamente, e por isso necessitamos de uma solução política", declarou aos 'media' o general Angelo Ristuccia, comandante da Kfor no terreno.
"A situação permanece particularmente instável", acrescentou.
Perante o amento da tensão, a Kfor decidiu um reforço das suas tropas, para um total de 4.500 efetivos.
A União Europeia, envolvida há vários anos numa tentativa de normalização das relações entre o Kosovo e a Sérvia, deve reunir de novo as duas partes durante a próxima semana.
Para o general Ristuccia, cujo mandato na liderança a Kfor termina em outubro, "uma multitude de assuntos" devem ser resolvidos através do diálogo político.
"A minha preocupação consiste em que o mais insignificante acontecimento pode originar uma situação difícil", acrescentou.
A instalação pelo Governo kosovar de autarcas de origem albanesa nas quatro cidades do norte -- onde são maioritários os sérvios, que optaram pelo boicote às eleições de abril passado -- desencadeou diversos incidentes violentos.
Os sérvios locais, com o apoio de Belgrado, condicionam a sua participação nas eleições à retirada dos autarcas albaneses sem representatividade e da polícia especial kosovar, para além da formação de uma associação de municípios sérvios na sequência do acordo de Bruxelas de 2013, que Pristina tem recusado aplicar.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo -- a sua antiga província do sul e considerada o berço da sua nacionalidade e religião -- proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada por uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Os dois países negoceiam a normalização das relações assente num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, com o seu roteiro acordado por Belgrado e Pristina em março passado, mas que a permanência das tensões se arrisca a comprometer em definitivo.
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