"Apesar dos esforços da administração [norte-americana] para reforçar laços com os seus parceiros do Quadro Económico Indo-Pacífico (IPEF, na sigla em inglês) e afastá-los de Pequim, estes países estão cada vez mais dependentes do comércio com a China", lê-se num relatório produzido pelo Peterson Institute for International Economics (PIIE), grupo de reflexão ('think tank'), com sede em Washington.
"A China é a principal origem das importações para todos os países do IPEF, exceto o Brunei, assim como o principal destino das exportações para metade", apontou o PIIE.
De acordo com a mesma fonte, em média, os países do IPEF compraram mais de 30% das suas importações à China e enviaram quase 20% das suas exportações para o mesmo país, em 2021. Estes números refletem aumentos médios na participação da China de mais de 40%, para as importações, e de quase 45%, para as exportações, face a 2010.
Os dados contrastam com os objetivos de Washington de retirar à China o papel central nas cadeias de distribuição globais, visando reduzir dependências e até alcançar uma dissociação em determinados setores estratégicos.
Os membros do IPEF incluem Austrália, Brunei, Fiji, Índia, Indonésia, Japão, República da Coreia, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Estados Unidos e Vietname.
A iniciativa visa aumentar o comércio entre os membros, visando diversificar e "eliminar os riscos" nas cadeias de abastecimento. Para os Estados Unidos, o objetivo é estabelecer uma rede de "parceiros de confiança" na Ásia, visando reduzir a dependência face à China.
Este objectivo é partilhado por alguns países da região devido ao crescente uso pela China de coerção económica, através do bloqueio da importação de produtos de vários países, em casos de disputas diplomáticas.
As perturbações nas cadeias de abastecimento causadas pela covid-19 e pela invasão russa da Ucrânia são outros fatores que suscitaram um debate sobre a necessidade de diversificar relações comerciais.
Em maio passado, o grupo G7, que reúne as principais economias ocidentais, vincou aquele objetivo num comunicado conjunto.
Com base nos dados do comércio internacional reunidos pelo CEPII (Centre d'Études Prospectives et d'Informations Internationales), um centro de pesquisa económica com sede em França, o PIIE determinou que as importações e exportações das economias do IPEF tornaram-se menos diversificados, em média, 28% e 31%, respetivamente, desde 2010.
"Ligações bilaterais mais profundas com a China impulsionaram grande parte desta mudança", vincou o relatório.
O grupo de reflexão detalhou que esta concentração inclui bens acabados e bens intermédios, utilizados na produção doméstica dos respetivos países.
Apenas as duas maiores economias do IPEF, Estados Unidos e Japão, assim como as Fiji, registaram uma diminuição na concentração das suas importações.
A diversificação dos EUA reflete uma quota menor de mercado para a China, desde que, em 2018, o anterior líder norte-americano, Donald Trump, impôs taxas alfandegárias punitivas sobre bens oriundos do país asiático. A diversificação do Japão também reflete menor quota de mercado para a China, mas a mudança limitou-se a bens de mão-de-obra intensiva, como vestuário e calçado.
O índice de concentração das importações para todos os outros países do IPEF aumentou, com destaque para Malásia, Vietname, Índia e Indonésia, que registaram subidas de mais de 50%, face a 2010.
"Estas alterações refletem principalmente um aumento na proporção de importações oriundas da China", lê-se no relatório.
A nível de exportações, os países que integram o IPEF registaram também um aumento da concentração, com exceção das Fiji, Nova Zelândia e Filipinas.
Os Estados Unidos registaram um pequeno aumento na concentração das exportações, enquanto Malásia, Vietname, Austrália e Singapura registaram aumentos de 30% ou mais. A concentração das exportações do Brunei aumentou mais de 200%, de acordo com a análise do PIIE.
Também aqui a China desempenhou um papel fundamental, ao reforçar o seu papel como destino das exportações daqueles países.
"Visto que estas tendências refletem forças económicas subjacentes, não é claro como o acordo proposto para as cadeias de fornecimento, que promete monitorização e coordenação, irá conseguir influenciá-las", concluiu o estudo.
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