"Talvez algumas medidas possam ser acordadas com cada um pressionando e negociando pelo seu lado, mas abordar a questão de fundo requererá uma unidade estratégia que ainda está por construir", afirmou Pere Aragonès, num encontro com a imprensa estrangeira, incluindo a Lusa, em Barcelona, no sábado à noite, a propósito do dia da Catalunha, que se celebra hoje.
Aragonès lembrou que na última legislatura espanhola, os dois grandes partidos independentistas catalães tiveram "visões estratégicas" diferentes sobre as relações entre governo regional e central e os caminhos para o objetivo da independência.
No caso da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), de que Aragonès é um dos dirigentes, a opção foi por abrir uma "mesa de diálogo" com o Governo de Pedro Sánchez e assumir que a independência tem de passar por um referendo negociado entre as duas partes.
Já o Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente do governo regional Carles Puigdemont, recusou e condenou o diálogo com o Governo espanhol e manteve a defesa de uma via unilateral para a independência, como já foi tentado em 2017.
Na legislatura anterior, a ERC já viabilizou o Governo de Sánchez, através da abstenção dos seus deputados no parlamento espanhol, e nos últimos quatro anos, o executivo liderado pelos socialistas indultou os catalães que estavam presos por causa do processo de 2017 e retirou do Código Penal o crime de sedição, pelo qual vários independentistas tinham sido condenados e de que estavam acusados outros por julgar, como Puigdemont, que vive na Bélgica para fugir à justiça espanhola.
Na semana passada, o JxCat, através do próprio Puigdemont, admitiu negociar a viabilização do novo governo espanhol na sequência das legislativas antecipadas de 23 de julho, ao contrário do que fez na legislatura anterior.
"O Junts [JxCat], que tinha rejeitado esta via estratégica, está agora a explorar a possibilidade de negociação. Isto é uma muito boa notícia. Esta coincidência estratégica é uma muito boa notícia", disse Pere Aragonès aos jornalistas estrangeiros.
Para o dirigente catalão, se as negociações com Sánchez avançarem, vão inevitavelmente chegar "um nível" em que será "absolutamente necessário haver coordenação entre os dois partidos" para serem frutíferas.
Para já, tanto ERC como JxCat reivindicam uma amnistia para separatistas condenados ou acusados pela justiça espanhola como condição para avançarem as negociações com os socialistas, sendo que para Pere Aragonès, "a questão de fundo" é a vontade que a maioria dos catalães manifestam em haver um referendo sobre a independência.
Aragonès defendeu que as eleições de 23 de julho deram visibilidade ao que Espanha é, "um estado compostos por distintas nações", além de mostrarem "a existência e persistência" dos partidos independentistas.
"Há uma realidade, que é a existência de um conflito por resolver e deve encontrar-se uma solução", afirmou.
"Espanha tem de se reconhecer como um país plural no qual há nações com o direito a poder decidir qual a relação que querem ter com Espanha, se continua a ser a de uma autonomia ou se passa a ser a de um estado independente", acrescentou.
Pere Aragonès defendeu que o referendo sobre a independência da Catalunha é uma "reivindicação democrática" e que "a anomalia" dos últimos anos em Espanha é a falta de resposta do Estado.
"E quando não há resposta a uma reivindicação democrática, a situação política só pode piorar", acrescentou.
Aragonès reconheceu que depois de 2017, nas eleições mais recentes, os partidos independentistas na Catalunha têm perdido votos e deputados, mas defendeu que "um processo de independência não é linear, tem um caráter político, histórico, em que há momentos de maior mobilização e momentos de menor intensidade".
"Estou convencido de que à medida que avancemos, os momentos de maior intensidade vão voltar e espero que seja em positivo", afirmou.
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