Independentismo diz que resiste e voltará a crescer nas ruas de Barcelona

Os catalães celebram hoje nas ruas o dia da Catalunha, desde há décadas uma jornada de reivindicação da independência, mas que perdeu poder de mobilização nos últimos anos, após a tentativa falhada de autodeterminação de 2017.

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Lusa
11/09/2023 15:43 ‧ 11/09/2023 por Lusa

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Catalunha

 

Este ano, o Dia Nacional da Catalunha, conhecido como Diada, coincide com o processo de formação do novo governo de Espanha, depois das eleições de 23 de julho, que deram aos partidos independentistas um papel decisivo. E para muitos, nasceu aqui uma nova oportunidade.

"A Diada está bem, talvez com um pouco menos de gente, mas reivindicativa", disse à Lusa Antonio, 61 anos, envolto na bandeira catalã e sentado nas imediações da basílica de Santa María del Mar, um dos epicentros das celebrações populares da jornada catalã de hoje.

Antonio gostava que esta fosse "a última Diada reinvindicativa e que a próxima fosse de celebração", mas reconheceu que a independência da Catalunha "não está tão próxima".

"Mas estamos no caminho", acrescentou, antes de considerar que a situação política atual é "uma oportunidade" e que "parece que as coisas vão mudando para melhor", com os partidos independentistas "a começar a exigir e a obrigar a outra parte a cumprir, a não ficar tudo só em promessas".

"Mas só parece", ressalvou várias vezes, cauteloso, depois do que aconteceu em 2017, quando a Catalunha avançou com uma tentativa de autodeterminação que acabou com a suspensão temporária da autonomia e com a detenção e condenação dos dirigentes da região, num golpe duro para o movimento separatista.

"A repressão" e "a estratégia do medo" do Estado espanhol, assim como algum "cansaço" com a política catalã e as lutas entre políticos catalães retiraram milhares de pessoas das ruas na reivindicação pela independência, nas palavras de António e de outros independentistas com quem a Lusa falou hoje em Barcelona.

"Mas a mobilização está a recuperar", garantiu Laura, de 33 anos.

"Somos independentistas, o sentimento não mudou nem se refreou. Continua igual. As pessoas podem estar cansadas ou desconfiar dos políticos, mas o sentimento e a vontade independentista é maior, não há outro sentimento tão grande", acrescentou.

Jordina, de 57 anos, concorda com Laura: "O movimento independentista não acaba, tem uma resistência, uma base social permanente e que se alarga em alguns momentos", afirmou.

Lembrando que em 2017 as sondagens revelaram que os defensores da independência na Catalunha "eram muitos" e roçaram os 50% da população, Jordina sublinhou que "isso não desapareceu" e a história tem mostrado que "volta sempre a sair", mesmo que "a repressão espanhola" o tente apagar ou diga que está a retroceder.

O socialista Pedro Sánchez quer ser reinvestido primeiro-ministro de Espanha, mas precisa dos votos dos deputados separatistas catalães no parlamento, depois de uma legislatura em que apostou "no diálogo" com a Catalunha, em contraposição "ao confronto" dos governos anteriores de direita.

Entre outras coisas, Sánchez indultou independentistas condenados e retirou do Código Penal o crime de sedição, que ditou penas de prisão e de que estavam acusados dirigentes catalães.

Para a nova legislatura, os independentistas pedem amnistias e a negociação de um referendo sobre a independência, enquanto Sánchez, sem assumir compromissos, tem dito que será "coerente" com os últimos anos, quando "a via do diálogo" e "a desjudicialização do conflito" se revelaram frutíferas, não havendo hoje processos de autodeterminação unilaterais.

Entre 2012 e 2018, a manifestação da Diada chegou a levar mais de uma milhão de pessoas para as ruas em Barcelona, em reivindicação da independência.

No ano passado, segundo a polícia, a participação foi a menor em dez anos (com exceção dos anos da pandemia), com 150 mil pessoas.

Este ano, a Assembleia Nacional Catalã, uma entidade privada que organiza as marchas da Diada, anunciou 200 autocarros com manifestantes desde vários pontos da Catalunha. No ano passado foram cerca de 240 e em 2018 mais de mil.

Além de terem saído pessoas das ruas após 2017, diminuíram os votos nos partidos independentistas nos últimos anos, em benefício dos socialistas de Pedro Sánchez, que venceu mesmo as legislativas espanholas de 23 de julho na Catalunha.

"No parlamento regional continua a haver uma maioria independentista", repetiram hoje todas as pessoas que celebravam a Diada em Barcelona com quem a Lusa falou.

Para uns, os resultados eleitorais explicam-se com a diminuição da participação por causa do desfecho do processo de 2017, para alguns está em causa algum cansaço com os partidos catalães, que se dividiram nos últimos cinco anos em relação à estratégia para chegar à independência, e para outros houve em 23 de julho uma resposta catalã à ameaça da entrada da extrema-direita do VOX no governo de Espanha.

Seja como for, o independentismo "já desembocou em algo novo" na Catalunha, desde que há seis anos foi declarada "uma república independente", defendeu Urtzi Ihitza Sainz, um basco de 63 anos, "historiador autodidata", que anualmente vai à Diada e instala um posto de venda de símbolos do País Basco e livros sobre os diversos idiomas e identidades dos povos da Península Ibérica.

Para Urtzi Ihitza Sainz, a aparente menor mobilização independentista na Catalunha atual é normal depois do processo de 2017, "mas voltará a subir", para atingir novo ponto alto dentro de alguns anos.

Quem o diz é um basco com a experiência de outra autonomia espanhola que reivindica a independência há décadas e tem assistido a ciclos "de altos e baixos" na mobilização.

"A diferença é que aqui já desembocou em algo novo", insistiu.

Leia Também: Referendo na Catalunha é "a questão de fundo", não amnistia

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