"Asseguro aos cidadãos que, seja quem for que tenha cometido erros ou negligência, o Ministério Público irá certamente tomar medidas firmes, apresentar um processo criminal contra eles e enviá-los a julgamento", disse numa conferência de imprensa na cidade de Derna, segundo noticia hoje a imprensa local.
No entanto, não é ainda claro como é que uma investigação deste tipo pode ser levada a cabo no país do Norte de África, que mergulhou no caos depois de uma revolta apoiada pela NATO ter derrubado o ditador Muammar Kadhafi em 2011.
Durante a maior parte da última década, a Líbia esteve dividida entre administrações rivais - uma a leste, a outra a oeste - cada uma delas apoiada por milícias poderosas e patrocinadores internacionais.
Um dos resultados tem sido o abandono de infraestruturas cruciais, mesmo quando as alterações climáticas tornam os fenómenos meteorológicos extremos mais frequentes e graves.
Jalel Harchaoui, especialista em assuntos da Líbia no Royal United Institute, com sede em Londres, disse que uma investigação poderia representar "um desafio único" para as autoridades judiciais, podendo envolver os mais altos responsáveis da liderança no leste e no oeste da Líbia, onde coexistem dois governos paralelos.
Desde 2014, o leste da Líbia tem estado sob o controlo do general Khalifa Hafter e do seu autodenominado Exército Nacional Líbio. Um governo rival, com sede na capital, Tripoli, controla a maior parte dos fundos nacionais e supervisiona os projetos de infraestruturas, sendo que nenhum dos dois tolera a dissidência.
"O principal desafio de uma investigação exaustiva terá a ver com o comportamento da coligação de Hifter e a sua histórica falta de responsabilização em geral pode obstruir o apuramento da verdade", disse Harchaoui.
As fortes chuvas causadas pela tempestade mediterrânica Daniel provocaram inundações devastadoras no leste da Líbia no passado fim de semana, sendo que duas barragens colapsaram, fazendo com que uma parede de água de vários metros de altura atravessasse o centro da cidade de Derna, destruindo bairros inteiros e arrastando pessoas para o mar.
"Mais de 10.000 pessoas estão desaparecidas", segundo números do Crescente Vermelho Líbio, citados pela AP e seis dias volvidos, as equipas de salvamento e de busca continuam a escavar na lama e nos destroços dos edifícios, à procura de corpos e de possíveis sobreviventes.
Até agora, o Crescente Vermelho confirmou que morreram 11.300 pessoas.
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