A história de Yousif, de 11 anos, só pode ser descrita como um milagre. É o único sobrevivente da sua família às cheias de Derna, na Líbia, que mataram, pelo menos, 11.300 pessoas.
À Sky News, o menino conta como sobreviveu. Enquanto as enchentes arrastaram toda a família para o mar, as ondas levaram-no de regresso à costa.
"A água levou-nos, atirou-nos para o chão", começa por dizer numa curta entrevista, enquanto recupera de "alguns arranhões numa perna" e de uma entorse no pé direito.
"Acordei no chão, levantei-me e comecei a andar. Mais tarde, um carro da polícia levou-me para uma escola", adianta, com as memórias ainda turvas do dia em que a sua vida mudou.
Questionado sobre o que sente, Yousif responde apenas: "nada".
O tio, Mustafa Farash é agora o seu tutor. Revela que o menino está em estado de choque. Perdeu pai, mãe, irmãos. Ao todo, foram 11 familiares que morreram. Mas apenas conseguiram encontrar e enterrar cinco corpos.
Como engenheiro civil nascido em Derna, está furioso com esta "tragédia evitável". Segundo ele, a segunda barragem destruída pela força da água foi construída em 1973 e em 50 anos nunca foi alvo de uma "manutenção digna".
"Todos aqui – homens, mulheres e crianças – sabem que isto foi causado por negligência e corrupção", atira.
A tempestade Daniel que atingiu Derna, uma cidade de 100 mil, habitantes no leste da Líbia, na noite de 10 de setembro, provocou a rutura de duas barragens a montante, desencadeando uma inundação semelhante a um tsunami ao longo da linha de água, que atravessa a cidade, arrastando tudo pelo caminho.
Segundo a ONU, pelo menos 11.300 pessoas morreram e 10.100 continuam desaparecidas em Derna, mas as organizações humanitárias no terreno receiam que o número de mortos seja muito superior. Fontes não oficiais garantem que o número pode ser bem superior e chegar aos 25 mil.
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