A segunda figura do Estado guineense e presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vincou, em entrevista à Lusa, a responsabilidade dos políticos nas condições atuais do país, que se prepara para assinalar, no domingo, os 50 anos da independência de Portugal.
Durante todo o fim de semana, deputados, restantes órgãos de soberania e convidados viajam até Lugadjol para recriar o momento da primeira assembleia constituinte, nas matas de Madina do Boé, um local de difícil acesso, que torna o evento "uma missão quase impossível", como admitiu o presidente do Parlamento.
"Mas eu penso que é essa impossibilidade que tem que tocar a nossa mente, tem que tocar a nossa responsabilidade para lembrarmos de onde é que partimos e o que prometemos a nós próprios há 50 anos e ter em conta que este povo já aguarda por nós há muito tempo", afirmou à Lusa.
Se os combatentes que declararam a independência há meio século no mato conseguiram lá chegar "em circunstâncias terríveis", Domingos Simões Pereira considera que os atuais responsáveis pelo país também têm "que conseguir", e sobretudo cumprir o desenvolvimento prometido à população.
"Depende de nós, depende dos guineenses, nós já fomos capazes de colocar muitos desafios e muitas prioridades, é chegado o momento de colocarmos a melhoria da condição de vida da nossa população como praticamente a única prioridade", preconizou.
O presidente da ANP defendeu que é necessário que todos conheçam a história do país, que os alunos possam aprender "a epopeia daqueles que de facto deram tudo o que tinham de mais valioso em troca da sua liberdade".
"Hoje beneficiamos de um quadro de paz, de alguma tranquilidade e tudo isto se deve às mulheres e homens que foram capazes de construir a independência. Ainda falta mudar muito, mas até a capacidade de sonharmos com essa mudança tem a ver com o facto de sermos livres e isso não pode ter preço", sublinhou.
O presidente do parlamento considerou que está por cumprir parte do sonho, que tem como símbolo maior o histórico Amílcar Cabral, pois continuam a faltar à população guineense "coisas concretas" como "uma melhor qualidade de vida, melhores escolas, melhores estradas".
Domingos Simões Pereira lembrou que "quando Cabral convocou o povo guineense para a luta de libertação, que se transformou em luta armada, lançou uma divisa extraordinariamente importante, o princípio da unidade, era a primeira vez que todo o povo guineense se juntava por um desafio".
"Todos nós que ouvimos Cabral dizer que a independência era o programa mínimo, o programa maior era a construção do país, agora estamos a perceber que ele se referia ao facto de nós não termos escolas, não termos urbanidade. Eu vejo, muitas vezes, sermos comparados com outras realidades e dizerem como é que estes conseguiram e como é que eles não estão a conseguir", observou.
"Há 50 anos, a Guiné-Bissau tinha 14 pessoas com formação média oficial, hoje temos milhares e portanto temos que assumir o desafio do momento, temos que rever toda a nossa programação e assumir um compromisso connosco e com a sociedade", acrescentou Simões Pereira.
O presidente da ANP considerou que "o desenvolvimento de uma sociedade não se faz com proclamações, não há como queimar etapas, formar uma geração leva tempo".
"Gostávamos todos de já estar num patamar maior, já estar a celebrar outro tipo de conquistas, mas temos que ter capacidade suficiente para compreender que essas etapas não se conseguem queimar. Estamos a aprender, eu espero que ainda viva o suficiente para conhecer o filho do meu filho e com esse poder falar sem complexo", disse.
Domingos Simões Pereira assumiu como responsabilidade própria "legar às próximas gerações de guineenses uma direção, uma orientação".
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