"Deixar cair as Nações Unidas é deixar cair o único sítio onde todos se podem encontrar. Se se perde isso, substitui-se por quê? Por nada", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas, em Nova Iorque.
Segundo o chefe de Estado, "é um milagre aquilo que tem feito o engenheiro Guterres" enquanto secretário-geral das Nações Unidas, "que é manter a bola em jogo, puxando por aquilo que é convergência", condicionado pelo "veto de alguns membros do Conselho de Segurança".
No seu entender, Guterres tem procurado "não deixar deslaçar o tecido" da organização, colocando na agenda temas como "o clima, o futuro, a situação das mulheres, a proteção das minorias, as migrações, as crianças, as transformações sociais, a ciência e tecnologia" e procurando "intervir quando pode na parte da guerra, que é o mais difícil".
Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa falava, à entrada da missão permanente de Portugal junto das Nações Unidas, soavam sirenes à medida que passavam comitivas dos países-membros, o que o levou a observar que, apesar de tudo, "o multilateralismo está vivo".
Para o Presidente da República, "a grande interrogação dos próximos anos" é se os líderes mundiais vão ser capazes de "reformar as Nações Unidas, para as tornar mais operacionais" e de "reformar as instituições financeiras para que os países ricos não fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres".
No discurso que fez na terça-feira, primeiro dia do debate geral anual entre chefes de Estado e de Governo dos 193 países-membros das Nações Unidas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "é tempo de cumprir" essas reformas, apelando a que se passe das palavras à ação.
Pelas reações de outros líderes mundiais, o chefe de Estado ficou convencido de que o ouviram e parecem ter concordado: "Agora, se além de ouvirem e de concordarem, se são capazes e querem e vão dar passos nesse sentido, essa é a minha interrogação".
"Pode ser que sim, eu tenho a esperança de que sim, que tenham percebido que é do interesse de todos. E quando é do interesse de todos é bom que se faça um esforço para mudar aquilo que já se percebeu que não dá. Eu já ouço falar do facto de as Nações Unidas estarem desatualizadas há décadas", acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa salientou que o futuro das Nações Unidas também depende de eleições nacionais que aí vêm: "Há eleições presidenciais americanas, há eleições europeias, há eleições presidenciais em vários países do mundo e, portanto, aí joga depois a política interna".
Nos últimos três dias passados nas Nações Unidas, além de discursar na 78.ª sessão da Assembleia Geral, o chefe de Estado interveio em cimeiras sobre o desenvolvimento sustentável e o clima, deixando uma mensagem sobre a responsabilidade dos políticos perante as populações, e num debate aberto do Conselho de Segurança em que reiterou o apoio de Portugal à Ucrânia contra a invasão da Federação Russa.
Sobre este último debate, o Presidente da República atribuiu à China a tentativa de "aparecer como neutral" e identificou a posição da Rússia como "muito defensiva", num contexto em que "a maioria esmagadora foi -- como se esperaria, pelas inúmeras resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas -- ao lado da Ucrânia".
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