O ministro dos Negócios Estrangeiros russo acusou o Ocidente de não cumprir os compromissos escritos e juridicamente vinculativos que assume, advogando tratar-se de um "verdadeiro império de mentiras".
"A Rússia, como muitos países, sabe disso em primeira mão", defendeu Lavrov, criticando a expansão da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
De acordo com o governante, os Estados Unidos da América (EUA) e restantes aliados ocidentais "subordinados" continuam a alimentar "conflitos que dividem artificialmente a humanidade em blocos hostis" e "dificultam a realização dos objetivos globais".
"Eles estão a tentar forçar o mundo a jogar de acordo com suas próprias regras egocêntricas. (...) Estão a fazer tudo o que podem para impedir a formação de uma verdadeira ordem mundial multipolar", acrescentou.
Ainda segundo Lavrov, a expansão militar da NATO na região Ásia-Pacífico cria o risco de uma nova fonte de tensão.
"Uma nova e perigosa demonstração do expansionismo da NATO é a tentativa de alargar a área de responsabilidade do bloco a todo o Hemisfério Oriental, sob o 'slogan' malicioso da 'indivisibilidade da segurança das regiões Euro-Atlântica e Indo-Pacífico'", disse.
Já em relação à guerra na Ucrânia, que, tal como no ano passado, voltou a marcar as discussões na Assembleia-Geral da ONU, Lavrov limitou-se a recapitular brevemente algumas queixas históricas que remontam à dissolução da União Soviética em 1991, mas não se aprofundou nos combates atuais, que se prolongam há 19 meses.
Além disso, e procurando captar a atenção dos países em desenvolvimento e de outras nações não ocidentais, o líder da diplomacia russa qualificou de "egoístas" as tentativas do Ocidente de incluir a questão da Ucrânia na agenda de cada reunião internacional, deixando de lado outras crises mundiais.
"Uma manifestação flagrante do egoísmo da minoria ocidental são as tentativas obsessivas de 'ucranianizar' a agenda dos debates internacionais, deixando de lado uma série de crises regionais não resolvidas, muitas das quais continuam há muitos anos e até décadas", apontou.
Ainda nesse sentido, Lavrov pediu mais uma vez aos Estados Unidos e aos países ocidentais que levantem as sanções contra Cuba, Venezuela e Síria.
O ministro disse que as sanções representam "uma violação grosseira do princípio da igualdade soberana", uma vez que o Ocidente as utiliza "como medidas unilaterais e coercivas" e que "prejudicam em primeiro lugar os estratos mais vulneráveis da sociedade".
De acordo com os procedimentos da Assembleia-Geral da ONU, que dão prioridade aos discursos feitos por chefes de Estados face a de outros funcionários de Governo, Lavrov discursou quatro dias depois do Presidente ucraniano, Volodomyr Zelensky, e do Presidente norte-americano, Joe Biden, que se dirigiram ao mundo na terça-feira, no primeiro dia de Debate Geral.
Na ocasião, Zelensky acusou a Rússia de usar alimentos, energia e até crianças como "armas" contra a Ucrânia. Já Biden instou os líderes mundiais a manterem o apoio à Ucrânia: "Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de qualquer nação estará segura?", questionou.
Lavrov e Zelensky dirigiram-se ao Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira, mas não se cruzaram. O líder ucraniano saiu da sala do órgão antes do ministro russo entrar.
[Notícia atualizada às 18h50]
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