ONU. "Notável e deprimente" que líderes continuem a ignorar Saúde

O analista Richard Gowan, do International Crisis Group (ICG), considera "notável e deprimente" que os líderes mundiais tenham ignorado no debate anual da ONU importantes eventos sobre saúde global, além de conflitos de longa duração como Líbia e Iémen.

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Lusa
26/09/2023 14:18 ‧ 26/09/2023 por Lusa

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Em declarações à Lusa para um balanço da semana de alto nível da 78.ª Assembleia Geral (UNGA 78) das Nações Unidas (ONU), que termina hoje em Nova Iorque, Gowan lamentou que as questões a envolver a saúde continuem a não ser uma prioridade para chefes de Estado e de Governo, mais focados em questões ambientais e no conflito da Ucrânia.

"Embora tenha havido uma série de reuniões sobre questões de saúde global, muito poucos líderes participaram nelas. É notável e deprimente que, apenas alguns anos depois de a covid-19 ter abalado o mundo, os líderes estejam a esquecer-se das questões de saúde", apontou Gowan, que é diretor do departamento da ONU no ICG, organização não-governamental voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais.

Foram três os grandes eventos organizados pelas Nações Unidas para abordar questões de saúde durante a sessão anual da UNGA 78: em 20 de setembro, a ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocaram chefes de Estado e de Governo para a adoção de uma declaração política sobre prevenção, preparação e resposta a pandemias; no dia 21, uma reunião de alto nível sobre cobertura universal de saúde e, no dia 22, uma reunião sobre a luta contra a tuberculose.

Contudo, foi a fraca adesão de líderes nacionais, salienta o especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz.

Gowan também considerou assinalável que este ano se tenham organizado poucas "reuniões sobre guerras de longa duração, como as da Líbia e do Iémen".

"Isto reflete, em parte, o foco global no desenvolvimento e nas alterações climáticas. Mas penso que é também um sinal de que muitos membros da ONU estão pessimistas quanto ao papel da organização na manutenção da paz e da segurança internacionais", avaliou.

A semana de alto nível da UNGA 78 centrou-se nos problemas enfrentados pelos países em desenvolvimento, assim como nas alterações climáticas e no desenvolvimento sustentável.

Gowan destacou o facto de o Presidente norte-americano, Joe Biden e os líderes europeus terem feito questão de mostrar que compreendem as pressões económicas e ambientais que os países da Ásia, África e América Latina enfrentam.

"Penso que Biden e os países ocidentais fizeram um bom trabalho ao demonstrar respeito pelas preocupações das nações não ocidentais. Esperamos que isto alivie as tensões na ONU, onde os líderes do Sul Global se têm queixado que os países mais ricos ignoram os seus problemas", afirmou.

Outro dos temas que marcou a UNGA78 foi a guerra na Ucrânia, cujo Presidente - Volodymyr Zelensky - marcou presença pela primeira vez na Assembleia Geral, com um "discurso poderoso", avaliou o analista, que contudo considera insuficiente para que muitos países mudem de políticas em relação à Rússia.

"Embora Zelensky tenha recebido a maior atenção dos meios de comunicação social, também teve o cuidado de ligar a agressão da Rússia contra o seu país a problemas económicos no resto do mundo, como os elevados preços dos alimentos e da energia", observou.

O analista considerou ainda notável que Biden, um dos maiores aliados de Kiev, não tenha mencionado a Ucrânia nos primeiros 20 minutos do seu discurso de 30 minutos na ONU, começando com comentários sobre as alterações climáticas e questões de desenvolvimento.

Gowan considerou "lamentável" que a imprensa tenha dado muita atenção aos líderes mundiais que faltaram à sessão anual.

"É verdade que figuras importantes como Narendra Modi [primeiro-ministro da Índia], Emmanuel Macron [Presidente de França], Rishi Sunak [primeiro-ministro do Reino Unido] e Xi Jinping [Presidente da China] estiveram ausentes. Mas compareceram mais de 131 Presidentes e primeiros-ministros, um pouco mais do que no ano passado. Isso sugere que a Assembleia Geral ainda é importante para muitos Estados", conclui Gowan.

Leia Também: Quase metade dos portugueses com problemas no acesso à saúde em 2019

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