Destituição do líder McCarthy reflete "guerra civil" entre republicanos

O analista Thomas Holyoke considera que a destituição de Kevin McCarthy, líder da maioria na Câmara dos Representantes do Congresso norte-americano, reflete uma "guerra civil" entre republicanos e atirou os legisladores para uma paralisação inédita.

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Lusa
04/10/2023 14:32 ‧ 04/10/2023 por Lusa

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"Isto é uma guerra civil interna entre os republicanos, que eles têm de resolver", afirmou o cientista político. "Neste momento, o Congresso parou de funcionar. Isto é uma coisa nova, nunca aconteceu antes". 

Kevin McCarthy foi destituído do seu cargo como líder ('speaker') da magra maioria republicana na câmara baixa do Congresso após uma votação que durou cerca de 25 minutos e foi desencadeada pelo congressista republicano da Florida, Matt Gaetz. 

O resultado -- 216 votos a favor da destituição e 210 contra -- foi histórico mas não constituiu uma surpresa, explicou à Lusa a cientista política luso-americana Daniela F. Melo, da Universidade de Boston. 

"Quando vi que os democratas não iam salvá-lo percebi que estava decidido", afirmou. McCarthy não tentou granjear apoio junto dos democratas e houve até uma congressista do partido minoritário, Frederica Wilson, que voltou para o Capitólio a fim de conseguir votar para destituir o republicano. 

"Sem os democratas, que não gostam dele, não havia maneira de garantir apoio para se salvar. Foi o fim para ele", frisou Thomas Holyoke. 

No seguimento da votação, o congressista republicano da Carolina do Norte, Patrick McHenry, foi nomeado líder interino ('pro tempore'), mas Holyoke salientou que esse cargo não comporta qualquer poder. 

"Tudo o que esta pessoa pode fazer é lançar uma votação para o novo 'speaker'", indicou. 

Uma vez que nenhum nome tem, neste momento, apoio suficiente, é possível que o Congresso não possa funcionar durante algum tempo. É a primeira vez que isto acontece na história dos Estados Unidos. 

"Normalmente, os republicanos tentam paralisar o braço executivo do governo. Agora paralisaram o braço legislativo, porque se a Câmara dos Representantes não pode funcionar, o Congresso não pode funcionar", explicou Thomas Holyoke. "Não pode aprovar leis, não pode apropriar orçamento para coisa alguma". 

A ameaça de destituição pairava sobre a cabeça de Kevin McCarthy desde o dia em que foi eleito, a 07 de janeiro deste ano. O líder tentou apaziguar a ala extremista do partido, mas um grupo de oito congressistas republicanos, encabeçado por Matt Gaetz, acabou por decidir a sua destituição depois de menos de 10 meses no cargo. 

Sem substituto óbvio, o próprio McCarthy pode ser novamente nomeado e ir a votos. "Mas a este ponto, quem é que quer este emprego? Que tipo de pessoa quereria esta posição neste momento?", questionou Thomas Holyoke. 

A situação sem precedentes está a gerar ainda mais incerteza num momento conturbado, que se seguiu à quase paralisação do governo federal, evitada à última hora com um orçamento temporário. 

"Não há regras para quanto tempo o speaker temporário pode ser temporário", salientou Daniela Melo. "Não consigo imaginar quem será o melhor candidato a speaker neste momento. Não vejo a ala centrista a votar na trumpista e vice-versa", ponderou. 

"Há aqui um impasse que se pode arrastar durante algum tempo, a menos que esteja a haver a manobras das quais não temos conhecimento". 

Leia Também: Biden pede eleição rápida do próximo líder da Câmara dos Representantes

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